Seis jogadores. Desde janeiro, o Benfica fez meia dúzia de vendas. Rodrigo, André Gomes, Garay, Markovic, Oblak e Cardozo disseram adeus e, em troca, os encarnados receberam 68,2 milhões de euros. Eis o primeiro número. Pelo meio, foi publicado o Relatório Intercalar do 3.º Trimestre de 2013/2014, com o resumo das contas do clube até 31 de março. No relatório constava o segundo número — 63,4 milhões de euros, relativos a um empréstimo contraído com o Banco Espírito Santo (BES). Os valores quase batem certo: ficam a sobrar 3,9 milhões de euros.

Das contas até ao relvado. No domingo, o Rio Ave apenas cedeu nos penáltis. Mas os 120 minutos de bola a rolar mostraram que, com Enzo Pérez, o Benfica funciona. E funcionou: a equipa de Jorge Jesus conquistou a Supertaça de Portugal. Mas os rumores, ou melhor, o Valência, não o largam — o clube quer contratar o argentino. E até já se fala em verbas: serão 30 os milhões que os espanhóis estão dispostos a oferecer pelo médio que, em julho, perdeu a final do Mundial frente à Alemanha.

Poderá Enzo Pérez ser o sétimo a sair? “Penso não perder mais nenhum jogador, se não também vou eu”, chegou a ironizar Jorge Jesus, explicando depois que estava a “brincar”. Mas a eventual venda do argentino pode explicar-se pelos euros dos quais o Benfica tem que dispor em outubro.

A SAD encarnada possui outro empréstimo obrigacionista cujo prazo de maturidade é atingido em outubro — este no valor de 35 milhões de euros. Ou seja, contas feitas, o clube terá de reembolsar ou renegociar 99,3 milhões de euros já daqui a cerca de dois meses. As seis vendas já realizadas desde janeiro permitiram encaixes que superam o valor do empréstimo contraído junto do BES. Mas resta o segundo empréstimo. É aqui que poderá entrar Enzo Pérez.

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Porquê Enzo?

Desde 30 de maio, data em que divulgou o relatório intercalar, o Benfica foi amontoando lucros. O primeiro foi Ezequiel Garay, defesa argentino cuja venda deu 2,4 milhões de euros aos cofres encarnados. Seguiu-se Lazar Markovic, com quem o clube ganhou 12,5 milhões, Jan Oblak, que rendeu 16 milhões e, por último, Óscar Cardozo, com quem o Benfica lucrou 4 milhões de euros.

Caso a estas quantias se juntem as verbas que os encarnados amealharam com as alienações dos passes de Rodrigo (22,8 milhões) e André Gomes (10,5 milhões), o clube já arrecadou 68,2 milhões de euros em vendas, desde janeiro — o suficiente para, pelo menos, liquidar em outubro o empréstimo obrigacionista contraído com o BES, avaliado em 64,3 milhões.

Ficam a sobrar 3,9 milhões de euros. Quantia que, somada a uma eventual venda de Enzo Pérez por 30 milhões de euros, quase perfaz os 35 milhões relativos ao outro empréstimo obrigacionista da Benfica SAD, que vence em outubro.

Aos dois empréstimos referidos, contudo, junta-se um outro, avaliado em 50 milhões de euros e cuja maturidade está fixada para dezembro. Logo, até ao final do ano, o Benfica terá de reembolsar ou negociar 149,3 milhões de euros relativos a empréstimos que contraiu.

O relatório, na altura, referindo-se aos dois empréstimos que não o do BES, sublinhava que era “previsível que os prazos de reembolso [fossem] renovados para além de 31 de março de 2015”. O documento, porém, presta informação referente ao período entre 1 de julho de 2013 e 31 de março de 2014, tendo sido emitido pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a 30 de maio — ou seja, bem antes de a crise no BES partir o banco em dois e separar os ativos bons (Novo Banco), dos ‘tóxicos’.

O que se passa em Valência?

A 14 ou a 15 de Agosto. Num dia ou noutro, Peter Lim, milionário singapurense, aterrará em Lisboa, acompanhado por Jorge Mendes, e seguirá diretamente para um encontro com Luís Felipe Vieira, presidente do Benfica. O objetivo é apenas um: acabar a reunião com papéis assinados, um aperto de mão e o acordo para levar Enzo Pérez para Valência e apresentá-lo aos adeptos a 17 de agosto.

É isso que o SuperDeporte, desportivo de Valência, escreveu na segunda-feira. O diário avançou que existe um acordo “há semanas” para que a transferência do internacional argentino se concretize por 25 milhões de euros — mais outros cinco milhões em variáveis, a serem pagos consoante o cumprimento de certos objetivos desportivos.

Este fim de semana é encarado pelos responsáveis do Valência como o prazo limite para fechar a contratação de Enzo Pérez. E a explicação está em Peter Lim. O magnata da Singapura é detentor do Meriton Capital United, fundo que, até 15 de agosto, tem a exclusividade nas negociações com o Bankia para a compra do clube espanhol. Porquê o Bankia? Pois o banco é o principal credor da dívida do Valência, que ronda os 215 milhões de euros.

E só falta mesmo o acordo entre o Bankia e Peter Lim. No final de julho, a Fundácion, entidade que detém a maioria das ações do clube, concordou em vender a sua posição por 100 milhões ao Meriton, em troca de garantias de que o magnata investiria 300 milhões de euros no clube. As contratações de André Gomes e Rodrigo, aliás, serviram para mostrar que Peter Lim está decidido a investir no Valência — os passes de ambos foram comprados ao Benfica por 45 milhões, e os jogadores foram colocados no clube por empréstimo. Ou seja, o Valência não gastou um euro.

Ou seja, caso o Peter Lim não chegue a acordo com o Bankia até 15 de agosto — as negociações, escreve a imprensa espanhola, estão presas pelas garantias que o banco exige e que o empresário não quer dar –, a transferência de Enzo até se poderá concretizar em moldes semelhantes ao negócio que colocou André Gomes e Rodrigo no Valência.

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