A Grécia volta nesta terça-feira a estar no centro das atenções dos investidores da zona euro e não pelas melhores razões. O governo foi criticado segunda-feira no Eurogrupo por querer antecipar a conclusão do programa da troika e a moção de confiança superada sexta-feira pelo governo liderado por Antonis Samaras não aliviou os receios no mercado de que o país caminha para eleições antecipadas. O partido Syriza, de Alexis Tsipras, à frente nas sondagens, está à espreita.
A bolsa de valores de Atenas está a cair 4,73%, para o nível mais baixo em mais de um ano, e os juros da dívida a 10 anos voltaram a negociar com uma taxa implícita acima de 7% pela primeira vez desde fevereiro. São dois sinais da incerteza que se abateu nos últimos dias sobre a Grécia, num contexto de menor otimismo geral nos mercados – algo que não contribui para estimular o apetite dos investidores por ativos com maior risco.
Ministros das Finanças da zona euro estão a acompanhar a situação “com algum ceticismo e preocupação”.
O governo de coligação liderado por Antonis Samaras, no poder desde o verão de 2012, venceu na sexta-feira uma moção de confiança parlamentar com 155 votos a favor e 131 votos contra. A votação teve como “pano de fundo” a intenção declarada pelo governo de concluir antecipadamente o programa de resgate da troika e aproveitar a descida recente dos juros no mercado para obter aí o financiamento de que necessita. Os analistas políticos veem a insistência do governo grego como uma tentativa de recuperar a popularidade perdida nos últimos meses após a aplicação de mais medidas de austeridade.
Os ministros das Finanças da zona euro estão a acompanhar esta situação “com algum ceticismo e preocupação”, disse o ministro austríaco Hans Joerg Schelling, na segunda-feira, à margem da reunião do Eurogrupo. Têm sido várias as vozes a defender que a situação da Grécia nos mercados ainda não é suficientemente robusta para que o país consiga obter no mercado todo o financiamento de que necessita. Um dos defensores desta ideia foi Paul Thomsen, antigo chefe da missão do FMI em Portugal.
Super-maioria parlamentar será um super-desafio
Não se trata apenas de recuperar nas sondagens o terreno perdido recentemente para Alexis Tsipras, líder dos eurocéticos da Coligação da Esquerda Radical, mais conhecidos como o partido Syriza. Antonis Samaras enfrenta uma contagem decrescente para conseguir, até fevereiro de 2015, reunir uma super-maioria de 180 deputados para eleger um novo Presidente da República. Se Antonis Samaras não conseguir, até essa altura, ir além dos votos do seu partido Nova Democracia e dos socialistas do Pasok, reunindo consensos com partidos mais pequenos e alguns independentes, dificilmente se evitarão novas eleições.
Em nota de análise a que o Observador teve acesso, os analistas do banco de investimento Citi dizem que “eleições antecipadas e o surgimento de um governo composto (ou liderado) pela oposição e o partido Syriza, que é contra o programa de resgate, parece um cenário cada vez mais provável”. “O voto de confiança ganho no parlamento na sexta-feira ajudou [Antonis Samaras] a ganhar algum tempo, mas o governo atual parece ter poucas probabilidades de conseguir o apoio de 180 dos 300 deputados para eleger um candidato Presidencial até fevereiro”, diz o banco.
“O líder da oposição, Alexis Tsipras, exige um perdão de dívida radical, o que seria politicamente explosivo”, receia Christian Schulz.
Além do Citi, também o Berenberg Bank partilha da preocupação geral que está nesta terça-feira a refletir-se na queda da bolsa e na subida dos juros da dívida. “Com a economia grega a dar alguns sinais de melhoria gradual, a estabilidade política continua a ser o maior risco em Atenas”, escreve o economista Christian Schulz em nota de análise enviada ao Observador.
“O principal partido da oposição, o Syriza, tem uma vantagem de cinco a 10 pontos [percentuais] sobre os conservadores do governo liderado por Antonis Samaras em várias sondagens”, nota o economista. “O líder da oposição, Alexis Tsipras, exige um perdão de dívida radical, o que seria politicamente explosivo em países credores como a Alemanha e poderia, ainda, empurrar a Grécia para fora da zona euro”, receia Christian Schulz.