Qual é o naufrágio mais importante da história? Para aqueles que responderam Titanic, a realidade mudou há poucos dias. É que foi descoberto o “Titanic do mundo antigo” na Grécia, contou o Washington Post. Há mais de dois mil anos, um navio romano, com inúmeros artefactos e dispositivos, entre eles o que é descrito como o computador mais antigo do mundo, naufragou ao largo da ilha Antikythera. E por lá ficou, sossegado e longe dos olhares dos mais curiosos, durante dois milénios.

Mas a ponta do véu começou a ser levantada durante a primavera de 1900, quando uma equipa de mergulhadores liderados por Dimitrios Kontos estacionou perto da ilha para se esquivar de uma tempestade. O cenário era, certamente, irresistível e os mergulhadores aventuraram-se nas águas cristalinas de Antikythera. O herói da comitiva foi Ilias Stadiatis, que levou para a superfície um braço de bronze de uma estátua. As descobertas não foram além desse objeto.

Em novembro desse ano, Kontos informou as autoridades helénicas sobre a descoberta, o que levou à mobilização de dois navios para a investigação. Foram meses a procurar pelo tesouro, mas nada. Apesar da capacidade dos mergulhadores, a operação teve de ser cancelada quando atingiram os 55 metros de profundidade, depois de um mergulhador morrer e outros dois ficarem paralisados. Quando a investigação acabou, em setembro de 1901, apenas cinco homens estavam disponíveis para mergulhar.

Agora, mais de um século depois da aventura de Kontos, uma equipa mista, com mergulhadores gregos e internacionais, voltaram a descobrir antiguidades, que vão desde utensílios de cozinha a uma lança de bronze com dois metros que pertenceria a uma estátua de um guerreiro em tamanho real, pode ler-se num comunicado da Woods Hole Oceanographic.

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A investigação foi levada a cabo pelo Instituto Woods Hole Oceanographic e pelo Hellenic Ephorate of Underwater Antiquities, que têm recorrido a tecnologia avançada — construíram um mapa 3D em alta resolução da zona –, numa operação que durou entre 15 de setembro e 7 de outubro. “As provas indicam que este é o maior naufrágio antigo alguma vez descoberto”, disse Brendan Foley, do Instituto Woods Hole Oceanographic. “É o Titanic do mundo antigo”.

Mas houve mais descobertas, como várias ancoras de chumbo e um anel de bronze com fragmentos de madeira ainda agarrados, o que prova que muito do recheio que estava no navio ainda sobrevive. Os objetos no fundo do mar deverão cobrir uma área de 300 metros. O tamanho do barco também deverá ser maior do que se suspeitava: teria qualquer coisa como 50 metros de comprimento.

Os investigadores suspeitam ainda que o navio, que transportava mercadoria de luxo, estaria a fazer a travessia entre Anatólia e Roma. A ilha de Antikythera encontra-se no meio dessa rota. Uma tempestade poderá ter empurrado o navio contra as rochas e penhascos da ilha, explicou o Woods Hole Oceanographic. Os arqueólogos comunicaram que pretendem regressar em 2015 para mais escavações e descobrir a mercadoria que seguia no navio. Theotokis Theodoulou, do Hellenic Ephorate of Underwater Antiquities, classificou de “muito promissoras” as descobertas, destacando a lança de bronze. “Temos muito trabalho a fazer neste local para desvender os seus segredos.”