Ricardo Salgado pediu ao Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES) que protegesse o contabilista Francisco Machado da Cruz, o contabilista que em maio foi acusado publicamente pelo antigo presidente do BES de ser o responsável pelas irregularidades nas contas da Espírito Santo Internacional (ESI), escreve esta sexta-feira o jornal i.

No dia 27 de janeiro, numa reunião do Conselho Superior, Salgado recomenda que Machado da Cruz seja protegido: “É o homem que esteve à frente das nossas contas este tempo todo. E é claro que ele sente um peso psicológico em cima dele brutal. Acho que temos de o proteger”. Nessa altura, como lembra o i, alguns membros do GES já tinham expressado a sua indignação por assinarem relatórios e contas alteradas.

A entrevista ao Jornal de Negócios onde Salgado disse que o contabilista tinha “perdido o pé no meio da situação” só surgiria quatro meses depois. Antes disso, Salgado reconheceu nas reuniões do grupo erros graves do contabilista, mas disse sempre que ele teria de ser protegido e tentou arranjar um emprego à mulher deste, de acordo com o mesmo jornal.

Francisco Machado da Cruz acabaria por assumir a “total e única responsabilidade” pelos erros. Em fevereiro de 2014, Pedro Mosqueira do Amaral, na altura administrador da Espírito Santo Finantial Group (ESFG), não acreditava que o contabilista tivesse falsificado as contas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O que eu quero saber é: o Francisco está a fazer um favor a nós ao admitir que fez um erro ou não está?”, perguntou Mosqueira do Amaral. Salgado respondeu: “Um favor? Eu não sei se está a fazer um favor. Acho que houve um erro. Um erro de facto”. O antigo administrador da ESFG insistiu: “É isso que queria saber. Não vi as contas do passado. Mas pensei sempre que o Francisco nos estava ali a ajudar um pouco ao assumir e passar a culpa para cima”.

“A culpa é de nós todos”, acabou por dizer Ricardo Salgado. “Vocês têm os relatórios da ESI, da Resources e companhia distribuídos todos os anos. Não estava consolidado. Se quiserem ver qual era o passivo era somar os passivos daquilo tudo. E depois houve outros passivos que não foram contabilizados. Portanto não olhem para mim à espera que… de forma alguma. É inaceitável”, continuou.

Quando Manuel Fernando Espírito Santo sugeriu que faria sentido o contabilista demitir-se, Salgado voltou a defendê-lo: “Sei que alguns de vós estão de faca afiada ao Francisco Machado da Cruz mas gostava de dizer duas ou três coisas. O Francisco é quem faz e sempre fez o nosso filling nos EUA e não vejo ninguém que possa fazer isso sem ele. De maneira que cuidado com as afirmações que fazem, nomeadamente em conselhos, porque com certeza que é necessário apurar responsabilidades mas há prioridades neste momento para o grupo que são mortais”.