Se o direito à vida é tido como irrefutável, o mesmo se pode dizer do direito a morrer? Aos 86 anos, Jean Davies decidiu por termo à vida. Mãe de quatro e avó de dois, deixou-se morrer à fome de maneira a contornar as restritas leis em torno do suicídio assistido. A ex-professora de matemática passou cinco semanas sem comer, deixou de beber água a 16 de setembro e faleceu a 1 de outubro. Na Inglaterra, tanto o suicídio assistido como a eutanásia são ilegais.
Jean Davies não tinha uma doença terminal, mas sofria de um conjunto de condições que lhe deixavam pouca (ou nenhuma) qualidade de vida, incluindo uma dor de costas crónica e episódios de desmaios, adianta o Independent. Ao Sunday Times descreveu o seu estado de saúde já depois de iniciar o percurso que iria ditar o fim inevitável: “É o inferno. Não lhe consigo dizer o quão difícil isto é. Você não tomaria esta decisão se não pensasse que a sua vida fosse ser muito má. É intolerável”.
À falta de alternativas, considerando que os métodos em cima da mesa passariam por opções ilegais ou por uma deslocação à clínica Dignitas na Suíça, que disponibiliza o suicídio assistido, Davies optou ditar o curso dos últimos dias de vida. “Eu queria morrer na minha cama”, contou à publicação britânica.
A família, garante a imprensa internacional, apoiou a decisão. A filha, Bronwen, disse que a mãe ficou frustrada pelo facto de o processo ser tão moroso. “Ela não tinha noção que ia demorar tanto tempo a morrer depois de ter parado de beber [água]. Ela pensou que poderia demorar três dias”, disse a também enfermeira de 64 anos. Davies, que dedicou a maior parte da vida a fazer campanha para que médicos pudessem administrar injeções letais em pessoas que quisessem morrer, recebeu o apoio do médico pessoal que aceitou ajudá-la ao aliviar os sintomas da fome.
Depois do desfecho dramático, o tema volta agora ao centro de debate: ainda este mês, o médico australiano Philip Nitschke abriu uma clínica no Reino Unido para ajudar pessoas que queiram pôr termo à vida. E, escreve o Guardian, no dia 7 de novembro a Casa dos Lordes — a câmara alta do parlamento do Reino Unido — vai debater um projeto de lei sobre morte assistida. Uma vez aprovado, permitiria aos médicos dar medicação apropriada aos pacientes com doenças terminais.