O PSD e o CDS mostraram-se esta quarta-feira disponíveis para um “debate alargado” sobre a dívida pública, dando desta forma a entender que poderão viabilizar o projeto de resolução do PS, que pede uma “audição pública” para avaliar o impacto e as soluções para o problema da dívida. Mas não sem antes o PS dizer “de uma vez para sempre aquilo que quer” em relação a essa matéria. Reestruturação? Ou só debate de ideias?, perguntam.
“O PSD está disponível para debater novamente a dívida pública nesta Assembleia, num debate alargado, num processo que não se arraste no tempo, em que cada partido transmita claramente as suas posições”, disse o deputado social-democrata Nuno Reis, que adiantou já algumas regras do jogo. Remeteu o debate da dívida para depois do debate sobre o Orçamento do Estado para 2015 e pediu que a metodologia fosse definida “já na próxima conferência líderes”.
Do lado do CDS, o sentido foi o mesmo. Cecília Meireles admitiu mesmo a viabilização de um “debate alargado”, mas desafiou o PS a dizer “de uma vez para sempre aquilo que quer” sobre a dívida pública. O que pensa o PS foi, de resto, o tema central do debate sobre os três projetos de resolução sobre a dívida, hoje discutidos no Parlamento. Também Nuno Reis, do PSD, sublinhou que espera que o PS “não se esconda” atrás das opiniões dos cidadãos e que apresente a sua posição enquanto partido.
Mas depois de ter entregado o seu projeto de resolução cauteloso sobre o problema da dívida pública, hoje discutido em plenário ao lado dos projetos do BE e do PCP, o PS voltou a mostrar-se cauteloso no que diz respeito a este tema quente. “Não há respostas simples, nem respostas pretensamente científicas para o problema da dívida”, admitiu o deputado José António Vieira da Silva, que lembrou a situação complexa do país e da União Europeia, para justificar as reservas em assumir uma posição sobre a dívida.
“Sabemos que não há respostas simples, a situação que vivemos interna e externamente é complexa, exigente e com enormes fragilidades”, disse, ressalvando que essas circunstâncias adversas “não podem impedir [o Parlamento] de abordar com coragem e profundidade o problema do endividamento”, que é um “problema nacional”.
Neste seguimento, e ainda antes de a bancada do PSD ter admitido o “debate alargado”, o deputado socialista acusou mesmo os restantes partidos – tanto os da maioria como os à sua esquerda – de estarem a querer “bloquear o debate sobre a dívida“. “Uns porque não lhes interessa, porque a sua política está tomada é a política da austeridade. Outros porque querem bloquear o debate, querem uma votação à pressa, para que possam aparecer como os campeões da alternativa”, atirou.
Enquanto o PS pedia um debate amplo sobre o tema, conforme já tinha deixado expresso no seu projeto de resolução onde pedia uma audição pública para avaliar o impacto e as soluções para o problema, o Bloco de Esquerda, que apresentou um proposta no sentido da reestruturação, não perdeu tempo a pôr a pressão no colo dos socialistas. À semelhança do PSD, o líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, lembrou que na fila da frente da bancada do PS estavam precisamente sentados dois deputados que subscreveram o Manifesto dos 74 – o líder parlamentar António Ferro Rodrigues e o deputado João Galamba -, incitando assim, implicitamente, a bancada a votar a favor do seu projeto.
É que, se por um lado, o projeto de resolução do PCP que vai no sentido da “renegociação” da dívida será certamente chumbado pelo PS, o projeto do BE é mais difícil de gerir uma vez que o texto faz eco do do Manifesto dos 74, assinado designadamente por quatro deputados socialistas – Ferro Rodrigues, João Galamba, Eduardo Cabrita e Pedro Delgado Alves. E também pelo histórico socialista João Cravinho.
Contactado esta quarta-feira pelo Observador, o ex-ministro de António Guterres, João Cravinho, aplaudiu a iniciativa do PS de promover um amplo debate: “É essencial um debate público promovido pelo Parlamento. Mas não só. Também na comunicação social”.
Os três projetos de resolução sobre a dívida – do PCP, que aponta para a renegociação, do BE, que reflete a proposta do Manifesto dos 74 pela reestruturação, e a do PS, que pede uma audição e um debate sobre o tema -, assim como as duas petições intituladas ‘Pobreza não paga a dívida; Pela renegociação já’ e ‘Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente’, foram discutidos esta quarta-feira no Parlamento. As votações dos três projetos, no entanto, só decorrem amanhã.