São 12 botânicos, provenientes de oito países e três continentes, em estado líquido – olho de dragão chinês, sementes de papoila branca da Turquia, folhas de lótus asiáticas, zimbro italiano, coentros marroquinos, angélicas alemãs, limão espanhol, lírios italianos, alcaçuz chinês, amêndoas espanholas, cássia asiática e lavanda francesa. Tudo engarrafado artesanalmente.

O processo requer mestria: o gin é destilado quatro vezes e filtrado outras três, em Inglaterra. O resultado saboreia-se quando chega ao copo, de boca larga, repleto de gelo e diluído numa água tónica premium. Diz quem sabe do assunto que esta é a melhor receita. E que quem estiver mais entusiasmado, pode juntar-lhe umas sementes de zimbro e coentros. Nada mais. O nome do néctar? Bulldog. Não o cão, mas o gin, aquele que Anshuman Vohra lançou em 2007, em Nova Iorque, porque queria viver o verdadeiro sonho americano.

No final de 2016, a bebida que tem ADN inglês em território norte-americano vai estar presente em 150 países.

Ao ex-primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, foi buscar a “alcunha”, porque queria que o gin tivesse um espírito icónico, onde a perseverança, a autoconfiança e a resiliência ditassem as normas. Talvez seja por isso que espera que, daqui a 20 anos, o seu néctar continue nos bares do mundo como um dos “campeões” da tendência que se vive hoje. Vai a Bulldog ser um Jack Daniels do gin? O indiano de 36 anos que já quis ser jogador profissional de ténis espera que sim.

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No final de 2016, a bebida que tem ADN inglês em território norte-americano vai estar presente em 150 países. É aí que se vai tornar numa verdadeira marca global, explica Anshuman Vohra ao Observador. Por enquanto, está presente em 55 países, incluindo Portugal e Espanha. Só a Península Ibérica é responsável por 60% das vendas do gin que é feito em Inglaterra. Das 10 destilarias que o empreendedor contactou em 2007, apenas uma lhe respondeu. E ainda hoje é lá que produz aquele que é o único gin no mundo, que inclui olho de dragão, sementes de papoila e folhas de lótus.

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A equipa que fez o design e o ‘branding’ da marca não cobrou nada, em 2007. Trocou os serviços por uma fatia do capital social da empresa

Se a ousadia compensou, ainda ninguém sabe. Mas os números dão conta do seguinte: em 2007, Anshuman Vohra precisou de 600 mil dólares, cerca de 469 mil euros, para lançar a Bulldog, e, nesse ano, vendeu 40 mil garrafas. No final de 2013, as receitas andaram na ordem dos 9 milhões de dólares, cerca de 7 milhões de euros, e foram vendidas 900 mil garrafas. Em outubro de 2014, já tinham sido vendidas 1,2 milhões. Destas, entre 80 a 110 mil garrafas foram vendidas em Portugal, ou seja, cerca de 1,5 milhões de euros, mais do que duplicando as 37 mil garrafas que foram comercializadas em 2013, na ordem dos 650 mil euros.

Quando Anshuman Vohra se despediu da banca de investimento, em Wall Street, para lançar a Bulldog, ligou a todos os amigos e pediu-lhes dinheiro. Disse-lhes que “ou investiam na empresa ou nunca mais voltava a falar com eles”. “Achei que ia ficar sem amigos”, conta, entre sorrisos, ao Observador, antes da apresentação que veio fazer aos alunos do The Lisbon MBA, em Lisboa. A verdade é que juntou o suficiente para conseguir levar avante a ideia que nasceu num bar em Nova Iorque, perto do banco de investimento J.P. Morgan, onde trabalhava.

Não queria ter de se preocupar em como iria sobreviver enquanto lançava a ideia. Trabalhou no projeto à noite e aos fins de semana, mas diz que não se importa.

Porque é que, naquele (e em tantos outros) bar existiam apenas duas marcas de gin e 22 de vodka, quando, no seu entender, o gin era bem melhor? Na ausência de respostas, recorreu ao Google. Foi aí que descobriu há cerca de 40 ou 50 anos, o gin era rei em território norte-americano e que o motivo para a viragem para o vodka tinha um nome: Bond, James Bond. Estava dado o primeiro passo para fazer o que sempre quis, lançar o seu próprio negócio.

Recebidas as primeiras amostras de gin da destilaria inglesa, ficou rendido. Contactou uma agência nova-iorquina a quem vendeu a ideia: ficavam encarregues da imagem da marca e do branding em troca de uma percentagem do capital da empresa, durante alguns anos. Fechou o negócio, mas só se despediu do banco onde trabalhava quando tinha toda a estrutura da empresa desenhada: o produto, a imagem e o capital. “Gosto de minimizar o risco”, explicou ao Observador. Não queria ter de se preocupar em como iria sobreviver enquanto lançava a ideia. Trabalhou no projeto à noite e aos fins de semana, mas diz que não se importa. “Sou do tipo de pessoas que trabalha arduamente durante 15 anos para depois poder ter os seus 15 minutos de glória”, disse.

Quando vai a um bar de gins e não têm Bulldog, sai e vai-se embora. Se estiver com amigos e não quiser fazer-lhes a desfeita, pede uma água com gás.

Quando lançou a marca, contactou uma distribuidora para vender o gin em Nova Iorque. Não conseguiu. Disseram-lhe que não acreditavam que o gin tivesse sucesso. Durante quatro meses, andou, literalmente, a vender a Bulldog de porta em porta, pelos bares da cidade que nunca dorme. Hoje, está presente em 55 países e assinou contrato com uma distribuidora que atua no mercado global e prevê chegar a 150 países em 2016.

Quando vai a um bar de gins e não têm Bulldog, sai e vai-se embora. Se estiver com amigos e não quiser fazer-lhes a desfeita, pede uma água com gás. Diz que não quer acordar quando tiver 45 ou 50 anos e perceber que não fez “isto ou aquilo” e que não pode voltar atrás no tempo. E recorda Marlon Brando, no filme On the Waterfront, quando a sua personagem, Terry, diz a Charley: “I could have had class, I culd have been a contender. I could have been somebody, instead of a bum, which is what I am.” 

Em tradução livre: “Eu poderia ter estudado, poderia ter sido um competidor. Poderia ter sido alguém, em vez de um vagabundo, que é o que sou.” Com zimbro e coentros ou sem, vai um gin?