A notícia apareceu na manhã desta quinta-feira, sob a forma de artigo de opinião na prestigiada revista da Bloomberg, Businessweek. Tim Cook, o CEO da Apple, escreveu sobre a sua vida privada, melhor dizendo, sobre a sua orientação sexual: homossexual, e “com orgulho”.
“Se eu nunca neguei a minha orientação sexual, também nunca a assumi, até agora. Deixem-me ser claro: eu tenho orgulho em ser gay e considero que ser gay é uma das maiores dádivas que Deus me deu.”
Na sexta-feira, Tim Cook deu uma conferência na Academia de Honra do Alabama, criticando o Estado onde nasceu pelo seu falhanço no reconhecimento dos direitos” dos homossexuais, lésbicas, travestis e transexuais (LGBT).
Agora, o homem que lidera uma das empresas mais inovadoras do mundo, líder na tecnologia, é claro e direto: “Ser gay deu-me uma compreensão maior do que significa estar numa minoria. Fez-me mais empático, o que me levou a ter uma vida mais rica. Têm sido tempos duros e desconfortáveis, por vezes, mas deram-me a confiança para ser eu próprio e ficar acima da adversidade”.
O artigo de Cook
“Durante toda a minha vida profissional, tentei manter um certo nível de privacidade. Cresci num meio humilde e não procuro atrair as atenções para mim. A Apple já é, por si só, uma das empresas com maior mediatismo a nível mundial, e eu gosto que os holofotes estejam apontados aos nossos produtos e às coisas incríveis que os nossos clientes fazem com eles.
Ao mesmo tempo, acredito profundamente nas palavras de Martin Luther King: “A questão mais persistente e com maior urgência na nossa vida é ‘O que estás a fazer pelos outros?’” Muitas vezes pergunto-me isso mesmo e apercebi-me que o meu desejo de privacidade pessoal tem-me impedido de fazer algo de maior importância – o que me traz ao assunto de hoje.
Durante vários anos, falei abertamente, com várias pessoas, sobre a minha orientação sexual, muitos colegas na Apple sabem que eu sou gay e isso nunca fez qualquer diferença na maneira como sou tratado por eles. É claro que tenho a sorte de trabalhar numa empresa que adora a criatividade e que sabe que esta apenas pode prosperar quando as diferenças entre cada um são aceites. Nem todos têm esta sorte.
É verdade que nunca neguei a minha sexualidade mas também, até agora, nunca a tinha reconhecido publicamente. Que isto fique bem claro: tenho orgulho em ser gay e acredito que ser gay é uma das maiores dádivas que Deus me deu.
Ser gay fez-me compreender, de uma maneira profunda, o que significa pertencer a uma minoria e permitiu-me vislumbrar os desafios diários que outras minorias enfrentam. Tornou-me numa pessoa mais empática, o que enriqueceu a minha vida. Por vezes, foi difícil e desagradável, mas deu-me a confiança para ser eu mesmo, para seguir o meu caminho e para levantar a cabeça perante as adversidades e a intolerância. Também me tornou “à prova de bala”, o que é bastante útil quando se é o CEO da Apple. (…)
Não me considero um ativista mas estou ciente dos benefícios que os sacrifícios de outros me trouxeram. Para aqueles que lutam por perceber o seu lugar no mundo, para aqueles que procuram consolo, para aqueles que se sentem desmotivados na luta pela sua igualdade de direitos – se vos ajudar saberem que o CEO da Apple é gay, então valeu a pena trocar isso pela minha privacidade. (…)
Quando chego ao meu escritório todas as manhãs, deparo-me com os retratos de Martin Luther King e de Robert F. Kennedy. Não penso que, ao escrever isto, me possa equiparar a eles mas quando olho para esses retratos sei que estou a cumprir a minha parte, mesmo que seja pequena, para ajudar os outros. Juntos, na esperança por justiça, trilhamos o iluminado caminho das nossas vidas, deixando a nossa marca – esta é a minha.”
Tradução de Francisco Ferreira.