Há duas semanas a Nestlé inaugurou uma nova fábrica de produção de leite em pó, a primeira do mundo com capacidade para operar sem recorrer a água da corrente ou com origem no subsolo. A expressão utilizada é muito ilustrativa: esta nova fábrica utiliza “água de vaca”.

Para explicar o que é e como funciona temos de começar por falar do leite em pó. É um dos alimentos mais consumidos no planeta, pela sua riqueza proteica e sobretudo pela sua durabilidade enquanto produto alimentar, bem como pela capacidade de armazenamento e de transporte. É por isso um alimento importante não apenas no mundo desenvolvido (é um produto que se encontra em todos os supermercados), mas também nos países em desenvolvimento, onde o leite é um bem escasso e uma fonte importante de proteínas, o que faz dele um produto presente no cabaz dos programas de ajuda alimentar.

E o que é o leite em pó? É o que resulta da desidratação do leite, ou seja, é retirada toda a água, o que em bom rigor, constitui a maior parte do leite (cerca de 90%). O que resulta deste processo é um pó (liofilizado) que contém as proteínas e a gordura do leite. Ora, esses 90% de água são um recurso demasiado precioso para desperdiçar. Há já algum tempo que várias indústrias aproveitam e reciclam água da cadeia de produção, mas a fábrica da Nestlé de Lagos de Moreno conseguiu otimizar o processo de tal forma que já dispensa o fornecimento externo. Foi a primeira do mundo a consegui-lo. Toda a água extraída do leite é tratada para depois ser usada na lavagem da infraestrutura e até para consumo humano.

Carlos Hernández, o diretor da fábrica, disse à Folha de São Paulo que extrai um milhão de litros de água dos 1,6 milhões de litros de leite produzidos diariamente — é o equivalente a uma piscina olímpica. Parte dessa água é tratada com métodos especiais que a tornam potável e outra, com menor grau de purificação, para ser usada na limpeza de equipamentos e processos de arrefecimento. A multinacional suíça trabalhou com a francesa Veolia Water e com a GEA Filtration, tendo sido gasto um total de 15 milhões de dólares na recuperação e renovação tecnológica da fábrica de Lagos de Moreno.

A Nestlé já utiliza há alguns anos os sistemas de reutilização de “água de vaca”, nomeadamente numa das instalações em Portugal. António Carvalho, do departamento de relações corporativas e de comunicação da Nestlé, confirmou ao Observador que a fábrica localizada na ilha de São Miguel nos Açores, dedicada exclusivamente à produção de leite em pó, conseguiu reduzir em 41% o consumo de água da rede pública, em parte graças a sistemas de purificação de água do mar.

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