António Pires de Lima leu o documento assinado por 14 personalidades para pedir ao Governo e “aos órgãos de soberania” o “resgate da PT”. Leu e compreendeu as “preocupações” manifestadas por “pessoas que respeita”, mas rejeitou a ideia de “resgate” – uma palavra que, diz, está imediatamente associada à “herança” deixada por José Sócrates. E apelidou mesmo aquele conjunto de personalidades, onde se incluem nomes como Bagão Félix, Freitas do Amaral, Francisco Louçã e Silva Peneda, de “brigada de resgate” por terem escrito nos últimos tempos uma série de manifestos.

“Eu li. São pessoas que respeito e compreendo as preocupações. São pessoas que têm uma história recente em Portugal, que têm formulado uma série de manifestos – penso que nos últimos tempos -, e que terminam sempre com uma palavra que é preciso evitar: resgate”, disse Pires de Lima à agência Lusa no final de uma visita à fábrica do grupo Visteon, em Palmela.

A ideia é que o Governo, que de resto já se manifestou várias vezes nesse sentido, não quer pôr a mão no negócio da PT e “resgatar” a empresa. “Portugal teve um resgate, aquele que nos deixou como herança o engenheiro José Sócrates e não quero ter mais nenhum”, disse o ministro, garantindo que é essa a linha de orientação que o Governo vai seguir no âmbito do caso Portugal Telecom. Prova disso é que o próprio vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, já teve reunido com os franceses da Altice para discutir a compra da operadora.

Desta vez, não é um manifesto

O documento assinado por personalidades, da esquerda à direita, para pedir uma “atuação intensamente ativa” do Governo no sentido de travar a venda da PT “não é um manifesto”, garantiu ao Observador Bagão Félix, um dos signatários. O abaixo-assinado, que foi divulgado esta terça-feira pelo jornal Público, trata-se precisamente de um “apelo para resgatar a PT”, como diz o texto, não avançando propositadamente com propostas de solução. Nacionalização? “Isso é que não”, diz Silva Peneda.

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Ao Observador, o ex-ministro das Finanças, Bagão Félix, não quis adiantar mais nada para além do que está no documento, sublinhando apenas que não se trata de um manifesto. É que, como Pires de Lima lembrou, vários dos signatários deste “apelo” assinaram também o conhecido Manifesto dos 74, que juntou economistas e personalidades de vários quadrantes políticos para pedir ao Governo a reestruturação da dívida pública. O documento levou à criação de uma petição que, em abril, chegou à Assembleia da República e serviu de base a um projeto de resolução do Bloco de Esquerda sobre o assunto.

Não sendo um manifesto, Silva Peneda, outro dos signatários, prefere dizer que “é um alerta”. Questionado pelo Observador sobre o texto, o atual presidente do Conselho Económico e Social afirma que a ideia da iniciativa é exercer uma “forma de pressão” sobre os poderes políticos para não se limitarem a ficar a assistir à “iminente venda da PT”.

Ricardo Cabral reforçou a ideia de que a razão de ser do documento é “mostrar preocupação com todo o processo”. “Achamos que o Estado não se pode alhear de uma coisa que é de interesse nacional”.

Silva Peneda garante que assinou o documento porque o negócio da PT o “preocupa” e é “importante para o país”, mas também, e principalmente, porque cabe ao poder político, “acautelar alguns tipos de interesses públicos”. E lembra, neste ponto, o caso do centro tecnológico, que deve ser “acautelado”. Questionado sobre qual a solução que o grupo dos 14 propõe para o negócio da PT, o ex-ministro dos governos de Cavaco Silva recusa a ideia da nacionalização da operadora de telecomunicações e é perentório, dizendo que o documento “não apresenta nenhuma solução” – não é esse o propósito da missiva.

Também o economista Ricardo Cabral reforçou a ideia de que a razão de ser do documento é “mostrar preocupação com todo o processo”. “Achamos que o Estado não se pode alhear de uma coisa que é de interesse nacional”, disse ao Observador o economista, que assinou o apelo ao lado de nomes como Diogo Freitas do Amaral, Bagão Félix, Francisco Louçã, Silva Peneda, Carvalho da Silva, Pacheco Pereira ou João Cravinho.

No documento, os 14 subscritores exigem “das autoridades políticas e públicas”, onde se inclui Governo, Parlamento e até Presidente da República, “uma atuação intensamente ativa”. Ricardo Cabral insiste nessa ideia, reiterando que, por haver “muitas dúvidas sobre o negócio”, “as autoridades deviam estar a analisar todas as operações com cuidado”.

O Observador tentou contactar os restantes signatários, como Francisco Louçã, José Pacheco Pereira, Carvalho da Silva e Freitas do Amaral, mas sem sucesso.