“Vénus é o gémeo terrível da Terra”, diz ao Observador Pedro Machado, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA). Embora as dimensões e a gravidade à superfície sejam semelhantes nos dois planetas, em Vénus “o efeito de estufa é avassalador”, devido à grande quantidade de dióxido de carbono. A equipa que Pedro Machado lidera na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa deu mais um passo na investigação deste planeta, pela análise dos ventos na atmosfera.
O astrofísico reconhece os resultados agora publicados na revista científica Icarus vêm contribuir para a importância do estudo de Vénus. Por um lado, perceber o efeito de estufa causado pela quantidade de dióxido de carbono na atmosfera venusiana permite entender melhor os potenciais efeitos das alterações climáticas na Terra. Por outro, distinguir a atmosfera da Terra da de Vénus, com base na composição química, vai permitir caracterizar as atmosferas dos exoplanetas e distinguir os que são comparáveis à Terra dos que são comparáveis a Vénus. Os exoplanetas têm um tamanho semelhante ao da Terra (e ao de Vénus) e localizam-se na região habitável das estrelas, mas conhecer a atmosfera vai permitir perceber se têm potencial para albergar vida (como a Terra) ou não.
À medida que a atmosfera aquece na zona do equador, o ar sobe em altitude e é transportado para latitudes mais altas (em direção aos polos). Isto acontece tanto na Terra como em Vénus, mas com algumas diferenças porque Vénus gira muito mais lentamente do que a Terra. Na atmosfera terrestre a circulação é feita em três células (em cada hemisfério), que funcionam como faixas paralelas ao equador, e onde o ar circula (sobe em altitude, dirige-se aos polos e volta a descer, já mais frio). Já na atmosfera de Vénus existe uma única célula em cada hemisfério que leva o ar a partir do equador em direção a cada um dos polos.
Para conseguir medir esta circulação da atmosfera venusiana os investigadores combinaram a observação simultânea a partir da sonda Venus Express da Agência Espacial Europeia e do telescópio terrestre localizado no cume Mauna Kea, no Havai – Telescópio Canadá-França-Havai (CFHT). “Esta é a primeira vez que se fazem observações sincronizadas”, diz o investigador, acrescentando que desta forma os dados obtidos pelos equipamentos se complementam um ao outro. Os resultados da equipa portuguesa foram tão promissores que o método de sincronização entre os equipamentos espaciais e terrestres pode ser repetido para outras missões.
Em relação à sonda Venus Express, um dos âmbitos de investigação do projeto europeu Eurovenus, a equipa do IA espera poder voltar a fazer uma sincronização com um telescópio terrestre em 2015, mas não sabe se será possível – era suposto o combustível da sonda ter acabado em junho deste ano. A missão Venus Express termina quando o combustível terminar, mas neste momento não se sabe muito bem quando será.