A suspensão da venda das 85 obras de Miró, contratualizado com a leiloeira Christie’s, vai custar este ano 1,9 milhões de euros em juros à Parvalorem e à Parups, empresas de capitais públicos, proprietárias da coleção.
Contactada pela agência Lusa sobre o apuramento do custo total, relacionado com a suspensão da venda da coleção, fonte das empresas revelou que a estimativa daquele valor parte de uma média estabelecida entre o mínimo e o máximo previstos para a venda em leilão, e o impacto que esse valor médio teria nos encargos da Parvalorem.
Para obter este valor, as empresas começaram por calcular que, se as obras de arte tivessem sido vendidas pelo valor mínimo contratualizado de 35.539.688,00 euros, o custo que não teriam de suportar em juros seria de 1.537.114,00 euros, e se tivessem sido vendidos pelo valor máximo expectável, de 54.323.456,00 euros, o custo seria de 2.296.498,00 euros. Para apurar ao valor final, definiram um preço médio entre os dois valores — 44.931.572,00 euros — e o montante de juros que teriam poupado seria de 1.916.806,00 euros, o custo médio anual em juros.
As empresas Parvalorem e Parups foram criadas pelo Estado em 2010 com o objetivo de gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-Banco Português de Negócios, nacionalizado em 2008. Com a venda destas obras, as empresas contavam recuperar parte desses créditos. A coleção composta por 84 pinturas e uma escultura de Joan Miró (1893-1983) — 13 obras pertencentes à Parups e 72 à Parvalorem — teve leilão marcado em Londres por duas vezes, este ano, em fevereiro e em junho. Ambos foram adiados por decisão da leiloeira Christie’s, na sequência de processos interpostos pelo Ministério Público no Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa (TACL), contra a saída das obras do país.
No início de novembro, Francisco Nogueira Leite, presidente das duas empresas, tinha afirmado à agência Lusa que o contrato com a leiloeira “continua válido e ambas as partes interessadas na venda”, mas que a sua realização já não será viável em 2014. O presidente das empresas tem vindo a reafirmar a intenção da venda das 85 obras – guardadas na Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, desde o final de fevereiro – e recusou a sua exposição pública invocando as questões judiciais pendentes. A Christie’s, por seu turno, tem-se escusado a comentar os adiamentos do leilão e os processos judiciais em curso em Portugal.