O Goldman Sachs passou a acreditar que o Banco Central Europeu (BCE) vai mesmo avançar para um programa de compra de dívida pública dos países da zona euro. E a dívida pública portuguesa é um dos ativos financeiros em que os investidores devem “apostar”, recomenda o banco de investimento em nota enviada nesta segunda-feira aos clientes.

“Notando a comunicação recente por parte da liderança do BCE, que tem um tom cada vez mais ‘dovish’ [propenso a avançar com mais medidas de estímulo], os nossos economistas europeus passaram a considerar mais provável que o BCE venha a anunciar um plano de expansão monetária com compra de dívida soberana na primeira metade de 2015“, escreve o Goldman Sachs.

O Goldman Sachs tem há vários meses uma visão favorável para a evolução das taxas de juro dos países da chamada “periferia”, incluindo Portugal, mas esse otimismo arrefeceu em agosto, devido aos sinais claros de um abrandamento do crescimento económico. Agora, com o BCE a mostrar que poderá avançar para um programa de compra de ativos em larga escala, incluindo dívida pública, o Goldman volta a aconselhar a compra de dívida portuguesa.

Recomendamos aos investidores a abertura de posições longas [a “apostar” na valorização do ativo e na queda dos juros implícitos] na dívida a 10 anos de Itália, Espanha e Portugal, em detrimento da dívida pública da Alemanha e França“, pode ler-se na nota de análise que o influente banco de investimento enviou aos clientes, a que o Observador teve acesso.

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A recomendação do Goldman poderá ter contribuído para mais um dia de alívio nas taxas de juro dos países mais fragilizados pela crise do euro, e da diferença destas taxas em relação à dívida da Alemanha, referência para o mercado. Os juros da dívida a 10 anos de Portugal tocaram nesta segunda-feira mínimos de cerca de mês e meio, na casa dos 2,95%, ao passo que a dívida de Itália e Espanha foi transacionada no mercado com a taxa implícita mais baixa de que há registos.

Esta é a reação do banco de investimento a mais um discurso de Mario Draghi que poderá ficar para a História da zona euro. Na última sexta-feira, 21 de novembro, Mario Draghi afirmou que “vamos fazer o que tivermos de fazer para acelerar a inflação e as expectativas de inflação o mais rapidamente possível, como nos obriga o nosso mandato de estabilidade de preços”.

Numa conferência perante investidores e banqueiros, Mario Draghi afirmou que “se a nossa atual trajetória de política não for suficientemente eficaz para conseguir isto [a aproximação da inflação ao objetivo], ou se se materializarem mais riscos para as perspetivas de inflação, iremos aumentar a pressão e alargar ainda mais os canais através dos quais intervimos, alterando a dimensão, intensidade e composição das nossas compras” no mercado, atirou Mario Draghi.