Em 2013, 15,3% dos doentes oncológicos foram operados já para lá do tempo de espera recomendado e 15,8% dos doentes considerados em situação prioritária também foram operados já depois do tempo indicado. Estes dados traduzem um aumento do número de doentes oncológicos operados fora de tempo face a 2012 em que as percentagens se fixaram nos 14,8% e 15,3%, respetivamente. É já o segundo ano consecutivo em que este indicador piora, depois de anos a reduzir a percentagem.

Segundo a portaria de 2008, que fixa os tempos máximos de resposta garantidos (TMRG), uma cirurgia a um doente oncológico deve ser realizada após 72 horas da marcação em situações muito graves em que o doente corra risco de vida (por exemplo um tumor cerebral com alterações progressivas do estado de consciência) ou, no máximo, após 60 dias seguidos, em casos de neoplasias indolentes (carcinomas da próstata de baixo risco, ou da tiroide também de baixo risco).

De acordo com o relatório “Portugal – Doenças Oncológicas em Números 2014”, apresentado esta sexta-feira, mais de 15% dos doentes foram operados já para lá do tempo recomendado. Isto apesar de ter havido no ano passado um aumento de 6,1% da produção cirúrgica oncológica considerado “notável” pelos autores do relatório que admitem porém não ter sido “suficiente para acomodar todo o aumento de procura”. Ao todo foram operados 44.264 doentes, depois de em 2012 ter havido uma redução da produção cirúrgica (que caiu para 41.705 operados num ano).

Foram também realizadas em 2013 mais sessões de radioterapia e houve um aumento do número de doentes internados nos hospitais portugueses. Por outro lado registou-se uma redução das sessões de quimioterapia o que os especialistas explicam, em parte, com o aumento da quimioterapia oral, frisando que foi gasto mais dinheiro em medicamentos.

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Olhando para a evolução das taxas de incidência das neoplasias mais frequentes, o relatório aponta para “um aumento progressivo e gradual dos tumores da mama feminina, do cólon e do pulmão, de acordo com o esperado”. Os autores revelam contudo particular preocupação com “o aumento significativo da incidência de cancro do pulmão, ao longo do quinquénio analisado [2005 – 2009], atendendo à letalidade associada”. Os especialistas apontam para que o número de novos doentes com cancro ultrapasse os 55 mil em 2030. Em 2010 não chegavam a 45 mil novos casos.

Em 2013, apesar de terem diminuído o número de pessoas rastreadas no caso do cancro do colo do útero e do cólon/reto, o aumento significativo do número de mulheres rastreadas em relação ao cancro da mama fez com que os rastreio nestes três tipos de cancro, que são aqueles em que se justificam rastreios, aumentasse face a 2012. Ao todo, houve mais 3.710 rastreios, num total de 380.536. É de assinalar que a taxa de adesão aos rastreios baixou nos três tipos de cancro.

Ao nível da mortalidade, o relatório mostra que houve uma pequena diminuição, em 2012, na taxa de mortalidade padronizada por tumores malignos, tanto na população global como no grupo etário inferior a 65 anos. Essas reduções verificaram-se sobretudo no que diz respeito aos tumores do estômago, do cólon, da traqueia/brônquios e pulmões, do colo do útero e da próstata. Os cancros que mais matam continuam a ser os da traqueia/brônquios e pulmões (3.446), seguido do cólon (2.612) e do estômago (2.312).