Com umas calças castanhas e uma camisola azul, um homem persegue um bezerro, caminhando com uma catana entre as mãos. A inquietude do animal dá-lhe mais alguns segundos de vida, adia a angustia que está para vir. A coragem parece faltar ao homem, que se desculpará com a falta de oportunidade para um golpe certeiro. Mas o movimento da catana, brusco e impiedoso, chegaria. É isso que se vê no vídeo em baixo (censurado na hora H), um exemplo do que acontece durante o Festival Gadhimai, no Nepal, que sacrifica milhares de animais em agradecimento à deusa Hindu que tem o mesmo nome do festival.

https://www.youtube.com/watch?v=ok5yjmbuzc8

Há vídeos de uma violência gráfica inqualificável disponíveis na internet. Um artigo do El Mundo chama-lhe “matança brutal” e disponibiliza um vídeo da organização internacional pela igualdade animal, que recorreu a um drone para capturar imagens. O Festival Gadhimai, celebrado de cinco em cinco anos, é o maior sacrifício religioso de animais do mundo e celebrou-se por estes dias (28 e 29 de novembro) em Bariyarpur, no sul do Nepal, perto da fronteira com a Índia.

 

Búfalos, cabras, cordeiros, bezerros e pombas são sacrificados por uma multidão que não hesita duas vezes em desferir o golpe fatal. Em 2009, por exemplo, o Guardian diz que foram mortos qualquer coisa como 250 mil animais no evento que atraiu mais de um milhão de fiéis. Segundo o Independent, os crentes confiam que a matança é sinal de sorte e que fará com que a deusa Hindu do poder, Gadhimai, concretize os desejos de cada um. O ritual começa ainda antes do amanhecer, com um padre a misturar o próprio sangue com o de rato, galinha, pombo, cabra e porco.

Num texto publicado no Guardian, no final de novembro, Jayasimha Nuggehalli, responsável por uma associação que tenta colocar um ponto final nesta prática, diz-se assombrado pelas imagens do festival. Nuggehalli descreve a violência dos atos contra os animais, que em muitos casos estão esgotados depois uma viagem de centenas de quilómetros sem comida e água. Um aliado importante da causa é o supremo tribunal da Índia, que obrigou o Governo indiano a travar os transportes ilegais de animais na fronteira daquele país.

“Os números [dos animais sacrificados] caíram porque o tribunal indiano baniu o transporte dos animais da Índia para o Nepal”, explicou ao Guardian Ram Chandra Shah, o líder do comité de gestão do templo Gadhimai. “O ativismo pelos direitos dos animais teve algum impacto. (…) As pessoas continuam a vir da Índia e Nepal, pelo que os números [de afluência] serão muito altos”, revelou.

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