A conclusão da publicação da Obra Completa do jesuíta é assinalada hoje, às 18:30, no salão nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, e conta com a participação dos professores e ensaístas Eduardo Lourenço, Carlos Reis e Viriato Soromenho-Marques.
“Podemos considerar excelente o número de sócios do Círculo de Leitores que comprou e continua a comprar a Obra Completa do Padre António Vieira, e também muitos outros leitores se fizeram sócios do clube para poderem usufruir desta publicação, que de um ambicioso projeto se transformou agora em obra totalmente publicada”, disse Guilhermina Gomes, sem adiantar números.
Guilhermina Gomes realçou o facto de a editora manter “a extraordinária capacidade de poder publicar obras desta natureza, transformando-as em sucessos editoriais”, e salientou que, “para que, esta obra acontecesse, foi necessário o mecenato do Santa Casa da Misericórdia de Lisboa [SCML], que apoiou financeiramente os especialistas durante o processo de preparação”, num montante na ordem dos 500.000 euros.
“A nós, Círculo de Leitores, coube-nos todo o restante investimento e o pagamento de direitos de autor”, esclareceu a editora que reivindicou “todas as medalhas de mérito cultural distinguindo quantos e todos nela participaram”.
A Obra Completa do Padre António Vieira, num total de 15.000 páginas, começou a ser publicada em abril de 2013 e foi considerada pelo historiador José Eduardo Franco, um dos seus coordenadores, “o maior projeto da história editorial portuguesa”. O historiador realçou que, “destas 15.000 páginas, cerca de um quarto são de inéditos ou textos parcialmente inéditos, nomeadamente teatro e poesia, da autoria de Vieira, que até os investigadores desconheciam”.
José Eduardo Franco coordenou a edição com Pedro Calafate, e afirmou que o jesuíta, que viveu entre 1608 e 1697, pode ser hoje visto como um “autor anticrise”. “As soluções que ele apresentou para o país, os escritos dele sobre a nossa mentalidade e os nossos políticos [permitem] dizer que ele é um autor, uma figura histórica anticrise”, afirmou José Eduardo Franco, que acrescentou que Vieira “ainda hoje nos ensina a bem falar, bem escrever e bem comunicar a Língua Portuguesa”.
Entre os títulos publicados, encontra-se “a obra magna de Vieira, que morreu quando a escrevia, que se intitula ‘A Chave dos Profetas’, que corresponde a dois volumes”, destacou Franco. Os trinta volumes, divididos em quatro tomos, contaram com a colaboração de 52 investigadores de Portugal e do Brasil, segundo cifra adiantada pela editora.
O historiador destacou a coragem, o “lado frontal” de Vieira e como este “enfrentou os homens do seu tempo”. “Ele tem aquilo que eu chamo uma espécie de património de crítica social e política, que ainda é pertinente para os dias de hoje”, disse o historiador que lembrou como o sacerdote, nascido junto à Sé de Lisboa, lutou contra as desigualdades sociais, a opressão do trabalho escravo, criticou a existência de cidadãos de primeira e de segunda, referindo-se ao que na época catalogava como “cristãos-velhos” e “cristãos-novos”, e “criticou as estruturas dominantes de corrupção, por exemplo no sermão do bom ladrão”.
A edição da Obra Completa está concluída, permanecendo disponíveis todos os volumes para venda.