A exposição do Banco Espírito Santo (BES) à sua participada angolana, o BESA, ficou de fora da avaliação ao balanço do banco feita no primeiro exercício transversal de revisão da imparidade da carteira de crédito (ETRICC) promovida pelo Banco de Portugal em 2013.
Esta informação foi avançada pela técnica de supervisão do Banco de Portugal que acompanhou a supervisão prudencial da Espírito Santo Financial Group (ESFG), holding financeira do Grupo Espírito Santo (GES) e maior acionista do Banco Espírito Santo, na comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão do BES e do GES. Isabel Caixinha adiantou, nesta quarta-feira, que a não inclusão do Banco Espírito Santo Angola, onde foi detetado já em 2013 um grave problema de credito malparado, foi uma decisão do Banco de Portugal.
O BESA era supervisionado pelo Banco Nacional de Angola e o Banco de Portugal privilegiou a análise aprofundada das carteiras de crédito em operações domésticas e em sucursais estrangeiras do grupo mas cujo negócio era sobretudo captado em Portugal, como a sucursal do Luxemburgo.
Apesar de crédito de cobrança duvidosa superior a quatro mil milhões de euros concedido pelo BESA, e financiado pelo Banco Espírito Santo, o BES nunca constituiu uma provisão nas suas contas para fazer face a mais que prováveis perdas em Angola.
No final de 2013, o BES beneficiou de uma garantia soberana do Estado angolano que protegia o BESA do risco de incumprimento e que evitou a necessidade da provisão. As imparidades com a operação angolana só foram reconhecidas na sua totalidade quando foi aplicada a medida de resolução ao banco, tendo esta perdas ficado do lado do BES, mas o crédito a recuperar será do Novo Banco.
Só no ETRICC II é que foi detetada a situação de descontrolo financeiro da Espírito Santo Internacional (ESI) que suscitou o pedido de uma auditoria por parte do Banco de Portugal.
Não havia indícios que apontassem para o colapso do BES
Susana Caixinha foi nomeada responsável pelo acompanhamento da Espírito Santo Financial Group (ESFG) em abril de 2012, tendo os seus trabalhos incluído o BES e o Banco Espírito Santo Investimento. A funcionária do Banco de Portugal fez parte da equipa de inspeção permanente no grupo bancário, mas quando questionada pelos deputados assegura que “não encontrou indícios que apontassem para o desfecho que veio a ocorrer”, ao nível do colapso financeiro do grupo, tendo contado sempre com a colaboração dos quadros do banco.
Muitas das perguntas foram remetidas para o Banco de Portugal ou os responsáveis pela coordenação da equipa de supervisão. Quinta-feira deveria ser ouvida outra técnica do Banco de Portugal que esteve na equipa permanente de inspeção no BES, mas esta audição foi entretanto cancelada.