Contrariando a tendência que se tem verificado nos últimos dias, a violência chegou este domingo aos protestos contra a atuação da polícia e da justiça dos Estados Unidos relativamente à morte por asfixia de um cidadão negro enquanto era detido. Em Berkeley, na Califórnia, alguns manifestantes partiram montras e atiraram garrafas e pedras à polícia, resultando desses confrontos dois feridos, um dos quais teve de ser hospitalizado.

Em muitas cidades americanas, este domingo é já o quarto dia consecutivo de protestos contra a decisão judicial de não indiciar um polícia branco pela morte de Eric Garner, um cidadão negro de 43 anos que, em julho, ao ser detido pela polícia de Nova Iorque por venda ilegal de cigarros, acabou por morrer. Eric sofria de asma e, ao ser agarrado pelo pescoço, queixou-se repetidamente que não conseguia respirar.

A frase “I Can’t Breathe” (Não consigo respirar) tornou-se, entretanto, o símbolo dos protestos. Derrick Rose, jogador de basquetebol dos Chicago Bulls, usou uma t-shirt com essa mensagem no aquecimento antes de um jogo da NBA.

A manifestação de Berkeley foi a primeira onde se registaram incidentes entre as forças policiais e as pessoas que marchavam em memória de Garner e também de Michael Brown, outro cidadão negro morto por um polícia branco em Ferguson, perto St. Louis, no Misouri, em agosto. Ambos os polícias envolvidos nessas situações acabaram por ser ilibados pela justiça americana.

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Apesar das montras partidas e dos confrontos – que acabaram com a polícia a lançar gás lacrimogéneo contra os manifestantes -, a grande maioria das restantes pessoas (cerca de 200) manifestava-se pacificamente e terão mesmo pedido o fim da violência na marcha, como relata a CNN.

Entretanto, e na sequência das manifestações em Nova Iorque, onde chegaram a estar milhares de pessoas nas ruas, o presidente da câmara da cidade – que já decidira antes adiar as suas férias – afirmou este sábado que os casos de polícias brancos envolvidos nas mortes de pessoas negras estão relacionados com racismo.

“Temos de ter uma conversa honesta neste país sobre uma história do racismo. Temos de ter uma conversa honesta sobre o problema que leva os pais a pensarem que, se calhar, os seus filhos podem estar em perigo quando lidam com a polícia, quando a polícia existe para protegê-los”, disse.

Bill de Blasio considera que o futuro terá de passar necessariamente por uma mudança de paradigma, num treino dos polícias para que reajam menos violentamente a certas situações. “A nossa polícia mantém-nos seguros, mas tem havido, no entanto, não apenas décadas de problemas, toda uma história de séculos de racismo”, afirmou, em entrevista à televisão ABC.

No início do mês, o presidente Barack Obama anunciou um conjunto de medidas para impedir aquilo a que chamou uma “cultura militarizada” nas forças policiais do país. Entre as medidas está a colocação de câmaras nos uniformes dos agentes, para que todas as interações com civis fiquem gravadas. Obama reconheceu, na ocasião, que a desconfiança do povo americano face aos polícias é “um problema nacional”.