Em março de 2014, em reunião com os advogados contratados como conselheiros legais da Espírito Santo Control, o contabilista Francisco Machado da Cruz garantiu que Ricardo Salgado, José Manuel e Manuel Fernando Espírito Santo sabiam da situação financeira da Espírito Santo Internacional (ESI), a holding que controlava os negócios financeiros e não financeiros da família. O Expresso, que já tinha noticiado um resumo desta reunião, revela este sábado, os documentos, depois de o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, ter dito esta semana no Parlamento que o contabilista era o responsável pela ocultação da dívida desde 2008 e que só teve conhecimento das perdas em novembro de 2013.

Na reunião, que decorreu a 28 de março, e onde também esteve presente João Martins Pereira, ex-administrador de empresas do Grupo Espírito Santo, os advogados confrontaram o contabilista sobre os erros nas contas da ESI. Três dias após a reunião, a equipa de advogados da Arendt & Modernach enviou um relatório e uma transcrição da reunião com os dois responsáveis do Grupo Espírito Santo (GES) ao próprio Martins Pereira e a Domingos Espírito Santo Pereira Coutinho, administrador da ESI. E é um excerto dessa conversa, com mais de 40 perguntas e respostas, que o Expresso agora publica.

Naquele momento, o contabilista Machado da Cruz assumiu toda a responsabilidade sobre as contas para ilibar de qualquer culpa os seus subordinados, mas diz que Ricardo Salgado e que, pelo menos, mais dois membros do conselho superior, sabiam que as contas não eram verdadeiras: Manuel Fernando Moniz Galvão Espírito Santo Silva e José Manuel Pinheiro Espírito Santo Silva, escreve o semanário. Os advogados concluem assim que as contas foram alteradas com o objetivo de esconder as perdas da ESI desde 2008, que ultrapassam os 1,2 milhões de euros.

Também numa primeira versão dos factos, que foi entregue ao Banco de Portugal, Machado da Cruz tinha confirmou que se reunia com Ricardo Salgado e com José Castella (controller financeiro do GES) para decidir a reavaliação de ativos, com o objetivo de tapar o aumento do passivo. Contudo, esta versão foi que mais tarde corrigida, com Franscisco Machado da Cruz a assumir, perante o comité de auditoria da Espírito Santo Financial Group, as responsabilidades pelos erros nas contas da holding.

Porém, mais recentemente, o contabilista terá voltado à versão original dos factos e foi ao Banco de Portugal dizer que Ricardo Salgado sabia de tudo o que se passava na ESI e que estava a par da ocultação das contas.

Esta semana, o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, acusou o contabilista Machado da Cruz de ter ocultado a dívida, e reafirmou que o buraco na ESI só foi conhecido em novembro de 2013. Já José Maria Ricciardi, presidente do BESI, rejeitou, nesse mesmo dia e também no Parlamento, a tese de que as culpas sobre as situações irregulares detetadas na ESI possam ser imputadas ao contabilista. Francisco Machado da Cruz já disse estar disponível para ser ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES, o que deverá acontecer em breve.

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