Cuba e Estados Unidos reataram relações diplomáticas graças à “exigência do povo cubano e da comunidade internacional” e à mudança na política de Washington, defendeu a embaixadora cubana em Portugal. Em declarações à agência Lusa, Johana Ruth Tablada de la Torre não escondeu a felicidade face ao anúncio da retoma das relações diplomáticas entre os dois países, congeladas desde 1961. “Parece mentira”, confessou.
O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou na terça-feira o restabelecimento de relações diplomáticas e que pretende discutir o total levantamento do embargo económico a Cuba. O líder cubano, Raúl Castro, confirmou que Cuba concordou em restabelecer relações diplomáticas com os Estados Unidos, indicando, no entanto, que falta resolver a questão do embargo económico imposto por Washington.
“O que levou a isto foi precisamente a exigência do povo cubano e da comunidade internacional. Não há outra causa que tenha suscitado tanta, tanta solidariedade nos últimos anos”, assinalou a embaixadora cubana em Portugal. A diplomata vincou que para Cuba “não há mudança nenhuma”, recordando que o seu país manteve-se “coerente”, pois sempre defendeu o “diálogo” com o Estado vizinho, “uma relação normal” e “sem condições”, na qual se possa “falar de qualquer coisa, sem obstáculos”. A “única coisa” que Havana pedia era “respeito” e “reciprocidade”, declarou.
Após mais de meio século de costas voltadas, a aproximação entre os dois países, que a embaixadora confirma ter contado com o apoio do Vaticano e do Canadá, deve-se a “muitas coisas juntas”, considerando que, durante “muitos anos”, os EUA “ficaram isolados, com uma política que pertencia à Guerra Fria”. Ora, “o mundo mudou, Cuba mudou, as pessoas começaram a fazer exigências”, explicou, reconhecendo a importância das viagens entre os dois países. “Sempre estivemos convencidos de que era possível, mesmo com diferenças, ter uma relação civilizada com o vizinho mais próximo. Totalmente anormal é uma política que não teve êxito nenhum no objetivo de fazer colapsar um país vizinho”, defendeu. Por isso, “as pessoas estão muito contentes em Cuba”, assinalou.
“Era um dia esperado, mas, mesmo assim, foi uma surpresa total”, reconheceu, contando que recebeu uma mensagem de uma médica cubana dizendo: “a vida sabia que devia este dia aos cubanos”. A diplomata reconheceu que “ainda falta” algo para a normalização, pois os EUA “têm que acabar com o embargo, mas é um primeiro passo, um grande passo no caminho certo”.
“O povo de Cuba já sofreu 50 anos, se tivermos que sofrer outros 20, é mau, mas não é insuportável. Ninguém quer que dure, mas três pessoas a pagar por tudo isso, era muito injusto, é muito bom que eles já estejam em casa, com as suas famílias”, disse, referindo-se aos prisioneiros libertados hoje.
Os Estados Unidos libertaram hoje os últimos três membros do grupo que ficou conhecido como os “Cinco de Cuba”, condenados em 2001 por espionagem. A libertação de Gerardo Hernández, Ramón Labanino e Antonio Guerrero foi anunciada no mesmo dia em que o regime de Havana libertou o norte-americano Alan Gross, detido há cinco anos, em Cuba, também por espionagem.