São cada vez maiores os sinais de aumento da produção em países como a Rússia e o Iraque. E também cada vez mais os dados económicos pouco animadores para as economias da Europa e da China. Este desequilíbrio crescente entre oferta e procura está a levar os preços do crude a mais uma sessão – a primeira do novo ano – em forte queda. O petróleo do Mar do Norte, negociado em Londres, está a cair mais de 2% e negociou na casa dos 55 dólares por barril, mínimos de cinco anos e meio.

Um novo ano mas “estamos a ver mais do mesmo” no mercado petrolífero, diz à Bloomberg John Kilduff, especialista em mercados energéticos ligado ao fundo Again Capital LLC. “Os dados PMI [índices avançados de atividade económica] da China e da Europa sinalizam uma procura cada vez menor, numa altura em que há cada vez mais fornecimento”, acrescenta o especialista. John Kilduff assinala que a Rússia, numa tentativa de produzir mais para compensar o efeito de queda do preço, está a atingir quotas de produção inéditas desde a queda da União Soviética.

Pelas 15h45 de Lisboa, o preço do crude Brent, negociado na ICE de Londres, descia 2,27% face ao fecho de quarta-feira, 31 de dezembro. Cotava nos 56,08 dólares, depois de nesta sessão ter chegado aos 55,48 dólares, um mínimo de maio de 2009. Em Nova Iorque, a tendência era semelhante: o barril descia 0,69% para 52,90 dólares.

Preço do petróleo cai para metade em seis meses

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Os preços do petróleo estão há vários meses em queda ininterrupta nos mercados internacionais. O preço do Brent negociado em Londres caiu para cerca de metade em seis meses. Fonte: Bloomberg

 

Um dos fatores que ajudam a compreender a descida abrupta do preço do crude é que a oferta está a aumentar – sem que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) faça o que quer que seja para contrariar este facto – mas também a procura dá sinais de diminuir, sobretudo na Europa e na China. E também nos EUA, que continuam a ser o maior consumidor mundial de petróleo (e uma economia que está a crescer a um ritmo anual superior a 3%) mas que estão muito próximos da autonomia energética graças à revolução do petróleo e do gás de xisto.

Não tem faltado quem se congratule pela descida recente dos preços do petróleo. No início de dezembro, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), a francesa Christine Lagarde, dizia que “haverá vencedores e perdedores, mas esta (descida dos preços do petróleo) é uma boa notícia para a economia mundial“. Até Mario Draghi, que em teoria poderia, em certa medida, ter na descida dos preços da energia um adversário na sua cruzada contra o “fantasma” da deflação na zona euro, disse que “a descida dos preços do petróleo é um fator positivo, sem qualquer ambiguidade”.

Mas há quem não esteja tão convencido. Stephen King é o economista-chefe do banco HSBC e um nome bem conhecido dos grandes investidores internacionais. Diz, em nota de análise recente enviada ao Observador, que “é tentador pensar que as descidas do preço do crude funcionam sempre como um fator impulsionador da atividade económica global. Mas a realidade é bem mais complexa do que isso”, como pode ler na análise publicada a 16 de dezembro pelo Observador.

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