O novo ano começa com uma entrevista de Mario Draghi ao jornal alemão Handelsblatt que não está a deixar ninguém indiferente nos mercados esta sexta-feira. O euro está a derrapar para mínimos de quatro anos e meio e os juros da dívida pública de vários países da zona euro estão em mínimos históricos. Isto depois de o presidente do Banco Central Europeu (BCE) voltar a sinalizar novos estímulos monetários para combater os riscos de deflação. Riscos que são hoje maiores do que há seis meses”, indicou Mario Draghi.
O presidente do BCE reconheceu que “o risco de não cumprirmos o nosso mandato da estabilidade de preços é maior do que há seis meses”. Esta é uma forma de admitir que a zona euro está em risco de uma inflação muito baixa por demasiado tempo ou, mesmo, de um período de deflação. É para combater estes riscos que Mario Draghi diz que o BCE está em “preparações técnicas para ajustar o tamanho, velocidade e a natureza das nossas compras [de ativos no mercado] no início de 2015 caso se torne necessário reagir a um período muito longo de baixa inflação”.
Com estas palavras, o euro está a perder 0,45% face ao dólar, para 1,205 dólares. Há momentos, chegou a cotar nos 1,2035 dólares, o que corresponde a um mínimo de quatro anos e meio. A moeda única está também a perder terreno face a outras divisas, como os 0,45% que desce face à libra esterlina nesta primeira sessão do ano.
Euro perde quase 12% face ao dólar em seis meses
Quando Mario Draghi fala em mais estímulos, o que estará em causa é um programa de compra generalizada de ativos incluindo dívida pública, com vista a aumentar o balanço do banco central. Isto porque os programas em curso de compra de dívida privada que estão em curso podem não ser suficientes. A perspetiva de ter o BCE a intervir no mercado de dívida pública com compras massivas está a fazer valorizar estes títulos, reduzindo para mínimos históricos as taxas implícitas.
Juros da dívida em mínimos históricos
A taxa de inflação na zona euro voltou a descer em novembro, para 0,3%, segundo a primeira estimativa do Eurostat. É apenas uma fração dos “abaixo, mas perto de 2%” que corresponde ao objetivo do banco central. Uma inflação demasiado baixa é, ao mesmo tempo, uma causa e uma consequência de crescimento económico reduzido, cenário que tem sido comprovado pelos mais recentes indicadores. E a ausência de inflação também não vem nada a calhar às empresas e aos membros da zona euro, que teriam uma grande ajuda para acelerar a redução real da dívida, entre os quais Portugal.
Pelo facto de a inflação estar há vários anos longe do objetivo, Mario Draghi anunciou em junho um conjunto de medidas de compra de dívida privada. Estas já estão em curso mas os analistas duvidam, como duvidaram desde o anúncio, que estas sejam suficientes para fazer “inchar” o balanço do BCE na medida desejada por Mario Draghi. Um balanço maior significa maior quantidade de moeda a circular, um euro mais baixo face às outras divisas (o que torna as empresas exportadoras mais competitivas) e custos de financiamento mais baixos para os estados e empresas. O objetivo do BCE é elevar o balanço para mais de três biliões de euros, o que implicaria um aumento de cerca de 50% face aos valores atuais.
A 21 de novembro, Mario Draghi deixou a garantia: “Vamos fazer o que tivermos de fazer para acelerar a inflação e as expectativas de inflação o mais rapidamente possível, como nos obriga o nosso mandato de estabilidade de preços”. “Se a nossa atual trajetória de política não for suficientemente eficaz para conseguir isto, ou se se materializarem mais riscos para as perspetivas de inflação, iremos aumentar a pressão e alargar ainda mais os canais através dos quais intervimos, alterando a dimensão, intensidade ecomposição das nossas compras” no mercado, atirou Mario Draghi.
Dias depois, o vice-presidente do BCE, o português Vítor Constâncio, reiterou a mensagem: “Esperamos que durante o decorrer do programa, as medidas adotadas façam regressar a folha de balanço à dimensão que tinha no início de 2012″, os tais três biliões de euros. “Senão, teremos de considerar comprar outros ativos, incluindo obrigações soberanas no mercado secundário”, atirou o responsável.