O jogo estava feito. Mais que feito. Três bolas já tinham entrado na baliza, uma vitória ia ser embrulhada e o pé direito colocava-se à frente do esquerdo para entrar no Ano Novo. Só uma coisa encravara o motor, não a meio, mas no início: o craque vira um cartão amarelo ser mostrado na sua direção logo aos 5’. Assim, Nani, o dono dos pés e cabeça mais inventores, não poderia viajar até Braga, na semana seguinte, para o provar frente ao Sporting minhoto. Era a quinta vez que via um cartão destes na liga e, portanto, a lei exigia que fosse castigado e visse o próximo jogo da equipa em casa, pela televisão.
A mesma lei, ou o Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, que colocaram Nani a ria e Alvalade a aplaudir quando o relógio já não tinha minutos para mais. Aí o Sporting teve um canto, Nani foi lá, mas não o bateu: esperou, abriu os braços, imóvel, e aguardou vários segundos até que o árbitro lhe mostrasse, de novo, o tal cartão. E outro, o vermelho, que o mandou para fora de campo. O estádio batia palmas, o jogador ria-se e, porventura, cumpria o que fora ordenado — ser expulso, de propósito.
Com este vermelho, Nani não falhará a partida dos leões em Braga, para o campeonato, na próxima jornada, pois a sanção será antes aplicada a meio da semana, diante do Famalicão, no jogo da Taça de Portugal. A culpa não é do sistema, de malandrices ou de esquemas — é mesmo do regulamento. Porque ele mandar que, ao quinto amarelo visto na Primeira Liga, o jogador cumpra um jogo de castigo no campeonato. Mas se, nesse encontro, vir um outro amarelo que conduza a um vermelho, a regra é outra — se “um jogador que tenha sido sancionado com cartão amarelo e venha a ser expulso (…) em consequência da exibição de cartão vermelho por falta grave, o cartão amarelo exibido não conta para efeitos de acumulação de cartões”, lê-se, no artigo 165.º da Subsecção IV do regulamento.
O mesmo que, em caso de cartão vermelho, dita que a suspensão se cumpra logo no jogo seguinte, de qualquer competição oficial em Portugal. Tudo junto, faz sentido? Sim, porque a lei o prevê. E porquê? Isso já não se sabe. Mas enquanto houver sorrisos na cara de quem a usa para “adaptar” uma sanção e as mãos dos adeptos baterem palmas, talvez a Liga de Clubes não altere uma regra que, se der jeito, convida ao castigo e não ao cuidado para o evitar.
E tudo isto para fechar uma semana de rumores, capas de jornais, desvendar de cláusulas de contratos — em teoria, confidenciais –, pessoas a falar desde fora e uma guerra, alegadamente, de personalidades, que fechou o Sporting em si mesmo e deu aso a que se especulasse. Muito. Entre os comunicado de Bruno de Carvalho (fora dois) a garantir que o treinador do clube ainda o era e será, Marco Silva manteve-se calado e preferiu sempre sublinhar que, o importante, era o Sporting estar unido. No sábado, ambos uniram-se num aperto de mão no final da vitória contra o Estoril que, forçado ou não, mostra que a teima poderá estar a acalmar — ainda bem para os leões, que têm neste treinador um homem que, nos últimos 10 jogos, conduziu a equipa a oito vitórias.
E vitória foi um lugar que o Vitória, o que mora em Guimarães, voltou a visitar. Não em parte, mas em muito graças a André André. É nome de capitão, que além de o ter repetido no apelido, obriga quem narra cada jogo dos minhotos a multiplicá-lo, na voz, dezenas de vezes. Porque o médio faz tudo e em todo o lado: passa a bola com calma, recebe-a do mesmo modo, finta e inventa pouco, acerta muito e, sobretudo, dá o exemplo. Desta vez deu-o com três golos.
Um de penálti, a sua especialidade, e outros dois com a bola a correr. Um português já não marcava um hat-trick na liga há dois anos — desde que o fizera Edinho, pela Académica –, e os de Guimarães não marcava um golo na liga desde novembro. Agora marcaram quatro e não deixaram que o Sporting passasse uma semana no pódio. E quem não deixou que o Benfica descansasse com mais de cinco pontos na liderança foi o FC Porto.
Os dragões, mesmo contra um mais que frágil Gil Vicente, que soma seis pontos e ainda não foi melhor, no marcador, que qualquer equipa, mostraram talvez o melhor futebol da época. Contra o Gil, sim, que às tantas até ficou a jogar com dez, mas o passe-passe-passe que Lopetegui quis pintar de azul e branco viu-se com fartura. Como as pessoas nas bancadas do recinto do Marítimo, também — mais de dois anos depois, os madeirenses inauguraram a nova do estádio (mais cerca de seis mil lugares). Os adeptos gostaram, apareceram e o treinador, Leonel Pontes, até disse: “Voltou-se ao Caldeirão dos Barreiros!”
“Gostar de ser campeão é diferente de lutar para ser campeão. Há a probabilidade de o ser e a capacidade de o ser”. Nem foi dos tais casos em que, depois, se diz que falar no fim é fácil. Não. Sérgio Conceição disse-o antes de o Sporting de Braga visitar o Marítimo e, sete temporadas depois — não acontecia desde 2007/2008 –, os madeirenses voltarem a ganhar aos minhotos uma partida para o campeonato. E voar para a Madeira, pelos vistos, é causa de alergia para a equipa.
Viu-se durante a semana, para a Taça da Liga, quando o Braga perdeu frente ao União da Madeira (2-1), e em setembro, mês em que os minhotos empataram (1-1) no estádio do Nacional. A equipa de Sérgio Conceição tem garra de sobra, é organizada em tudo o que faz e intensa em muitas alturas. A isso tem que juntar sempre outra coisa. “Falta de atitude não desculpo”, sublinhou o treinador.
Provou-o ao vencer, dentro e fora, o Benfica. Vencer contra os rivais, ou frente a quem está num nível ao qual se pretende chegar, é fulcral. Mas as conquistas também se fazem em ultrapassar quem, diz a teoria e a classificação, está abaixo do seu. Com esta derrota, os minhotos foram ultrapassados pelo Sporting e chegarão ao duelo com os leões, na próxima jornada, a dois pontos de distância.
Belenenses 0-0 Académica
Paços de Ferreira 1-2 Rio Ave
Marítimo 2-1 Sporting de Braga
Sporting 3-0 Estoril Praia
Gil Vicente 1-5 FC Porto
Boavista 3-1 Arouca
Vitória de Setúbal 2-1 Moreirense
Vitória de Guimarães 4-0 Nacional da Madeira
Penafiel 0-3 Benfica
Os setubalenses, de Domingos Paciência, venceram uma das equipas da liga (Moreirense) com mais amizade pela organização e deram oxigénio à estadia do treinador no clube. Em duelo de antigos campeões nacionais pelo Boavista, foi Petit sorrir e Pedro Emanuel, do Arouca, a entristecer. No Benfica, Enzo disse adeus, foi embora para o Valência e, agora sim, Jorge Jesus terá de montar uma equipa sem o médio-motor que, nos últimos dois anos, ajudou a empurrar os encarnados até às conquistas. A primeira prova correu bem: vitória em Penafiel, com o pé esquerdo de Talisca a tentar fazer o que o direito do argentino fazia.
Esta semana não houve adeus, mas dois até já: Yacine Brahimi, inventor dos dragões, e Islam Slimani, goleador dos leões, ficaram um mês e pouco longe devido à Taça das Nações Africanas. Ambos marcaram um golo na vitória das suas equipas este fim de semana. Como será durante as suas ausências?