Investigadores da Universidade de Aveiro descobriram um processo “simples e eficaz” de aproveitar os resíduos de eucalipto da produção de pasta de papel, extraindo compostos bioquímicos para uso farmacêutico e alimentar, anunciou nesta segunda-feira fonte académica.

O destino até agora dado pela indústria de celulose à casca de eucalipto tem sido a sua utilização na queima como biomassa para produzir energia, mas com o processo de extração de compostos, patenteado pela Universidade de Aveiro (UA), passa a ser possível extrair em cada 100 quilos de biomassa cerca de um quilo de extrato bioativo, quantidade que pode alcançar valores entre as centenas e os milhares de euros, consoante a pureza.

O processo de extração agora anunciado é o culminar de uma investigação científica que teve início há 12 anos, com a descoberta por uma equipa do Departamento de Química, de que a casca do eucalipto é rica em ácidos triterpénicos usados pelas indústrias farmacêutica e alimentar. “A casca de eucalipto é um resíduo vegetal abundante, que contém este conjunto de compostos de elevado valor acrescentado, e cuja exploração pode ser realizada de forma integrada com o processo industrial de produção de pasta de papel”, salienta Carlos Manuel Silva, um dos responsáveis do projeto.

O método de extração e purificação dos ácidos triterpénicos da casca de eucalipto, já patenteado pela UA, baseia-se em processos de separação típicos e bem conhecidos da engenharia química e não requer solventes nem condições de operação especiais ou estranhos à realidade industrial. Para além disso, acrescenta Carlos Manuel Silva, “é comprovadamente simples, rápido e eficaz”. Assim, refere o investigador, “para além do conhecimento científico que o suporta, existem garantias tecnológicas para uma implementação futura”.

Quanto às aplicações dos ácidos triterpénicos, Armando Silvestre, coautor do estudo, refere a cosmética, a nutrição humana e animal e a indústria farmacêutica. Ao nível farmacológico, vários estudos publicados na literatura mostram que os ácidos triterpénicos existentes na casca do eucalipto possuem importantes propriedades bioativas. É o caso dos ácidos ursólico, oleanólico e betulínico.

Os dois primeiros, refere Armando Silvestre, “podem ser aplicados como antimicrobianos, antitumorais e hepatoprotetores [protegem as células hepáticas de agentes tóxicos]”. No que diz respeito ao ácido betulínico, “foi identificada a sua ação como agente anti-malária e anti-HIV”.

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