O PS acusou esta quinta-feira Pedro Passos Coelho de ter sido contra uma compra massiva de dívida pública por parte do Banco Central Europeu (BCE), agora elogiada pelos sociais-democratas. Primeiro, no plenário no Parlamento, os socialistas lançaram a acusação perante os rasgados elogios do PSD e, minutos depois, na sede do partido, no largo do Rato, era a vez do secretário-geral, António Costa, repetir a mesma acusação, lendo frases isoladas de Passos.

“A compra pelo BCE era um péssimo sinal”, disse Passos em novembro de 2012. “A economia europeia deve recuperar pelos seus próprios meios”, diria em maio de 2014. Tudo frases invocadas por Costa que, assim, sustentou que o primeiro-ministro era contra a intervenção do BCE.

Para o socialista, o anúncio feito esta quinta-feira pelo BCE representa “um ponto de viragem” e a Europa precisa “de Governos que dêem prioridade ao crescimento e à criação de emprego”.

Momentos antes, no Parlamento, o PSD tinha elogiado o programa de compra massiva de dívida pública. “É uma decisão histórica, que se espera, e que se deseja, que venha a ter um impacto positivo na economia europeia”, disse o deputado Nuno Reis durante a declaração política destinada ao partido da maioria. Um elogio rasgado à anunciada “bazuca” de 1,14 biliões de euros que foi criticado pelo Partido Socialista, com o deputado socialista João Galamba também a lembrar declarações anteriores de Passos Coelho onde se mostrava contra uma intervenção do BCE nesta matéria.

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Primeiro, João Galamba recordou o que disse o primeiro-ministro em novembro de 2011, onde mostrava que era contra uma intervenção alargada do BCE e onde dizia que “medidas dessa natureza foram responsáveis pela Segunda Guerra Mundial”. Depois, o socialista recordou outras frases de Passos Coelho, mais recentes, onde voltava a manifestar-se contra a compra de dívida pública em larga escala: “Isso seria errado, impossível, inconcebível e se acontecesse eu estaria completamente contra porque o BCE não se deve meter nestas matérias”, voltou a dizer o deputado socialista citando o primeiro-ministro.

“Esta política vai contra o que o Governo português sempre defendeu, vai contra o que o primeiro-ministro sempre defendeu e é bom que reconheça isso”, afirmou João Galamba, sublinhado que o presidente do BCE, Mário Draghi, disse ainda “que a flexibilidade orçamental deve ser aplicada a todos os países e não apenas a alguns”

Antes, no entanto, tinha sido o PSD a recordar outras declarações também de Passos Coelho. “Portugal não pode falhar, e eu sei que Portugal não falhará”, disse o deputado social-democrata Nuno Reis, lembrando o discurso de tomada de posse de Passos Coelho, em julho de 2011, onde pediu “coragem, persistência, boa vontade e paciência” aos portugueses. Segundo o PSD, desde essa altura “Portugal tem cumprido a sua parte” e é por isso – “e só por isso” – que “está hoje em condições de beneficiar do novo programa do BCE”.

Incitado a comentar o programa do BCE de injeção de liquidez através da compra de dívida pública de 60 mil milhões de euros por mês, Galamba defendeu que se trata do primeiro reconhecimento oficial “de um erro na estratégia da União Europeia”. E o socialista Marcos Perestrello lembrou ainda que a dívida pública portuguesa está hoje no “valor mais alto de que há memória”.