A crise militar e política na Ucrânia falou este sábado a três vozes: Vladimir Putin diz que a Rússia não está em guerra contra a Ucrânia; Joe Biden, o vice-presidente dos Estados Unidos, alega que a Ucrânia tem direito a defender-se e Petro Poroshenko, o presidente ucraniano, pediu ajuda aos aliados dizendo que está disponível para oferecer um cessar-fogo. Tudo enquanto, França e Alemanha negociavam com Putin um proposta desconhecida da própria Ucrânia. Está a ser um sábado atribulado.
Por partes. Vladimir Putin já garantiu que não quer entrar em conflito com ninguém, mas nem por isso deixa de fazer fortes críticas às sanções aplicadas pelo ocidente a propósito da crise que se vive em solo ucraniano. “Não há guerra, graças a deus. Mas há definitivamente uma tentativa de conter o nosso desenvolvimento”, afirmou o presidente daquele país numa conferência de âmbito sindical, que se realizou este sábado. “Eles definitivamente não conseguem ser eficientes contra um país como o nosso, embora causem um certo prejuízo e nós percebemos isso… Precisamos de elevar o nosso nível de soberania, incluindo a nossa economia”, afirmou.
Num mesmo registo, teceu críticas face a uma ordem mundial “congelada” que se estabeleceu nas últimas décadas, após a queda da União Soviética, com um líder único que “assim quer permanecer”. Segundo a agência de notícias AFP, o chefe de Estado russo estaria muito provavelmente a referir-se aos Estados Unidos da América. “Uma ordem mundial assim nunca se vai adequar à Rússia”, disse. “Mas não fazemos intenções de lutar com ninguém. Planeamos cooperar com todos”.
Entretanto, do outro lado da “barricada”, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez saber que o governo do seu país está à procura de uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia, o qual já tirou a vida a mais de 5 mil pessoas. Acrescentou, no entanto, que Kiev tem o direito a defender-se da Rússia e que os EUA podem fornecer meios para o efeito — muito embora Angela Merkel, a chanceler alemã, considere que enviar armas para ajudar a Ucrânia no combate aos militares pró-russos não é maneira de resolver a crise.
“O presidente Putin prometeu muitas vezes a paz e entregou tanques, tropas e armas. Então vamos continuar a ajudar a Ucrânia com assistência de segurança, não para encorajar a guerra, mas para permitir que a Ucrânia se defenda”, disse Biden numa conferência sobre segurança realizada este sábado em Munique, citado pelo jornal brasileiro O Globo.
O certo é que, para o presidente ucraniano, a crise no seu país continua sem fim à vista, pelo que fez um apelo aos aliados europeus — quer ajuda política, económica e militar. No discurso, proferido numa conferência de segurança em Munique, onde também Merkel falou ao mundo, Poroshenko alegou que a “questão ucraniana permanecerá sem solução até que as pessoas e os políticos na Europa e no mundo inteiro apoiem a independência dos ucranianos”. “Somos uma nação independente e temos o direito de defender nosso povo”, acrescentou, numa intervenção emocionada.
Poroeshenko mostrou ainda, no decorrer do discurso, passaportes vermelhos de soldados russos encontrados em território ucraniano, o que considerou ser a “melhor prova” da presença de militares pró-russos naquele país. No pedido de ajuda, Poroshenko argumenta que está disposto a oferecer um cessar fogo:
“Estou pronto para anunciar um cessar-fogo total e incondicional a qualquer momento para parar o crescente número de vítimas civis”.
Citado pela Bloomberg, o presidente ucraniano disse desconhecer os planos franco-alemães para solucionar o conflito. “Não sei nada sobre essas propostas. Nós temos uma base para toda a negociação: o acordo de Minsk. (…) Isto é uma questão de negociação. Devemos reunir imediatamente e iniciar o processo”.