O homem, que diz ser um dos últimos queijeiros da região da Serra da Estrela, contou à agência Lusa que faz queijo desde jovem e que aprendeu a aptidão com a mãe. “Eu, na altura, olhava e via”, disse, referindo que, no início, pensava que não seria capaz de fazer um queijo, mas aos 24 anos começou a produzir por conta própria e nunca mais parou. Com o passar dos anos aperfeiçoou a técnica e atualmente já trabalha a “brincar” na queijaria artesanal que possui no centro da aldeia onde vive.
Armindo Ferreira contou que durante os meses da campanha de produção de queijo, que vai de outubro a junho, faz “todos os dias” aquele produto tradicional. “Não há sábados, não há domingos, não há feridos, não há nada. Nesta casa, todos os dias são dias de trabalho”, disse.
O pastor e queijeiro afirma que em cada dia que passa sente “mais” orgulho por ser um dos últimos queijeiros da região e por produzir, de forma artesanal, o tão afamado queijo obtido a partir do leite de ovelha cru da raça bordaleira, com a adição de sal e cardo. “Costumo dizer que sou o homem das sete profissões. Tenho que ser queijeiro, pastor, agricultor, enfim, tenho várias tarefas ao longo do dia. Às vezes, há gente que se queixa que não tem trabalho, outros estão sobrecarregados com trabalho”, observou, bem-disposto.
O homem cuida diariamente do rebanho de 140 ovelhas e também confeciona o queijo, com a ajuda da mulher, Maria Alice Almeida, de 60 anos. A queijeira lembra que “antigamente” os homens da região da Serra da Estrela “faziam o queijo”. Atualmente, isso já não acontece, com exceção do marido, porque “tudo vende o leite [para as fábricas de laticínios da região], já ninguém faz queijo”, explicou.
Maria Alice Almeida gaba as qualidades de Armindo Ferreira e reconhece que fazendo também ele o queijo “é melhor do que estar só um” a suportar o funcionamento diário da queijaria tradicional.
Das mãos do casal queijeiro saem, em média, entre cinco a seis queijos de ovelha por dia, que, após cumprirem as várias fases do processo de fabrico (que começa no momento em que o leite é coagulado e vai até à cura), são vendidos diretamente ao consumidor final, sem intermediários, como manda a tradição.
O produtor referiu à Lusa que a sua queijaria produz anualmente uma média de mil unidades, embora a quantidade dependa sempre das características do ano, porque na agricultura “é sempre tudo incerto”.
Armindo Ferreira, que comercializa o queijo com o rótulo “Queijaria do Armindo -Queijo Ovelha Curado”, lembra que no passado optou pelo processo de certificação, mas desistiu, sem querer adiantar as razões da decisão.