O ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, afirmou esta terça-feira que Portugal não pode ser comparado à Grécia e que, nesse sentido, o Governo português estará sentado no lado oposto do grego na mesa de negociações. Confrontado no Parlamento com críticas da oposição face à forma como o Governo tem reagido aos acontecimentos que se desencadearam no pós-eleições, Machete sublinhou que o facto de Portugal estar do outro lado da barricada não significa “desconsideração ou desatenção” perante a Grécia.
“A Grécia faz parte do euro, e nesse sentido devemos considerar estudar as medidas que são propostas pelos gregos. É isso que o Governo português vai fazer. Estamos do outro lado da mesa das negociações, e essa é a postura certa, mas isso não significa desconsideração ou desatenção. Não temos vindo a desinteressar pelo futuro da Grécia”, afirmou o ministro à margem de uma audição parlamentar na comissão dos Assuntos Europeus, que decorreu esta tarde no Parlamento.
Rui Machete reiterou que a posição do Governo na Europa vai no sentido de fazer de tudo para que a Grécia se mantenha no euro, mas está tudo em aberto. “Veremos como as negociações vão evoluir”, sublinhou o ministro, referindo-se à reunião extraordinária do Eurogrupo e ao Conselho Europeu, agendados para esta semana. Uma semana que, como sublinhou o deputado centrista José Ribeiro e Castro, vai ser “alucinante” e “decisiva” para a reconstrução do rumo da Europa.
“A ideia de que o Governo se encontra distraído ou que preferia que a solução fosse no sentido da exclusão da Grécia do euro não é verdadeira”, disse Rui Machete.
No decorrer da audição regimenta do ministro dos Negócios Estrangeiros, os deputados da oposição, principalmente o socialista Vitalino Canas e a deputada comunista Carla Cruz mostraram “preocupação” pela forma como o Governo reagiu aos acontecimentos eleitorais na Grécia. Sublinhando que a intenção não é pronunciar-se sobre a vontade do eleitorado grego, Vitalino Canas afirmou que a “Grécia está no euro, pertence ao Eurogrupo e à União Europeia” e, nesse sentido, “a sua expressão tem de ser considerada, não imposta, mas considerada”.
Para o PS, o problema grego é um problema do euro e, por isso, um problema também de Portugal. “Necessitamos de mais estadistas e não de contabilistas”, atirou o deputado Vitalino Canas, afirmando que é preciso abrir uma linha de “diálogo franco e aberto com o Governo grego” para resolver os problemas mais alargados da UE. “Saía a Grécia ou fique a Grécia, o euro continuará a ter problemas”, disse, reafirmando que “é preciso criar condições para que as assimetrias sejam superadas”.
Ainda sobre as comparações de Portugal à Grécia, Machete limitou-se a dizer que era “absurdo” comparar, uma vez que Portugal, assim como a Irlanda, saiu do programa de assistência financeira e voltou sozinho aos mercados, enquanto a Grécia precisou de dois resgates e ainda não tem um final à vista. Mas elogiou o “espírito” de diálogo que tem sido levado a cabo no Eurogrupo para encontrar uma solução. Nesse sentido, o deputado do PSD António Rodrigues apontou o dedo aos gregos e aos avanços e recuos do seu discurso, dizendo que “qualquer negociação precisa de reciprocidade”.
“Se a Grécia pretende alterar uma regra do jogo é preciso que dê uma contrapartida. E até agora ainda não se viu nada”, disse.