Aléxis Tsipras continua a surpreender. Primeiro, depois de ter ficado apenas a dois deputados da maioria absoluta, o Syriza fez uma coligação relâmpago com o partido eurocético de direita os Gregos Independentes. Agora, o novo primeiro-ministro grego nomeou Prokopis Pavlopoulos, um moderado de centro-direita, para candidato ao cargo de Presidente da República.

A decisão foi anunciada esta terça-feira no Parlamento por Tsipras, que garantiu que a escolha do antigo ministro do Interior tem como objetivo assegurar o necessário consenso político e social de que a Grécia precisa num momento em que discute o seu futuro na Europa.

É que, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Portugal, o regime grego prevê que o Presidente da República seja eleito pelo Parlamento e não através de sufrágio direto. Os nomes dos candidatos são propostos pelos partidos e o candidato tem de recolher a aprovação de pelo menos dois terços dos 300 deputados que compõem o plenário grego. Caso não consigam eleger um Presidente, há uma segunda volta em que um dos nomes tem de conseguir mais uma vez um mínimo de 200 votos. No entanto, se nem à segunda ronda for possível aprovar um dos nomes, há lugar a uma terceira ronda em que o número de votos exigidos baixa para 180.

Foi precisamente a falta de um consenso em torno do homem que iria sentar-se no Palácio Presidencial que deu origem à crise política e às eleições antecipadas que conduziram a coligação de esquerda radical ao poder. Uma crise que Aléxis Tsipras não quer correr o risco de ter de enfrentar: a coligação governamental tem 162 assentos no Parlamento – Syriza (149), Gregos Independentes (13) – pelo que, segundo alguns analistas citados pela Deutsche Presse-Agentur, a nomeação de Pavlopoulos é vista como um gesto de reconciliação com a direita e uma solução de compromisso para evitar nova crise política. É uma forma de arrumar o assunto e focar todas as atenções nas negociações com Bruxelas.

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Mas as negociações entre parceiros da coligação e mesmo dentro do Syriza não terão sido fáceis. Segundo o jornal Ekathimerini, Aléxis Tsipras deveria ter apresentado o seu candidato a Presidente da República no domingo e tudo apontava para que fosse o comissário europeu, Dimitris Avrampoulos.

Todavia, o nome não terá agradado a alguns membros do Syriza e ao líder do parceiro de coligação, que propôs a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros, Dora Bakoyannis, para o cargo. De acordo com a mesma publicação, que cita fontes próximas do Syriza, os membros da coligação de extrema radical terão dito a Tsipras que, de todos os potenciais candidatos conservadores em cima da mesa, só aceitavam a antiga ministra da Educação Marietta Ginnakou ou o ex-ministro do Interior Prokopis Pavopoulos. A escolha acabou por recair sobre Pavopoulos.

Quem é Prokopis Pavlopoulos?

O candidato escolhido por Tsipras para Presidente da República Helénica tem 64 anos, é professor na Universidade de Atenas e integrou o Governo de Costas Karamanlis, quando o partido da Nova Democracia venceu as eleições em 2004.

Como ministro do Interior de Karamanlis, Prokopis Pavlopoulos enfrentou uma grave crise quando, em 2008, uma vaga de manifestações irrompeu por toda a Grécia contra os escândalos de corrupção que envolviam membros do Executivo grego. Os sucessivos casos levaram, inclusivamente, o primeiro-ministro a pedir desculpas publicamente e a prometer um novo rumo para o país.

Apesar de não ter estado envolvido diretamente em nenhum dos escândalos de corrupção que obrigaram à demissão de três ministros em apenas doze meses, Pavlopoulos esteve debaixo de duras críticas pela forma como a polícia grega lidou com os manifestantes. A morte do jovem de 15 anos, Alexandro Grigoropoulos, durante um confronto com a polícia em Atenas foi o rastilho que acendeu a revolta de milhares de gregos.

Na altura, o ministro do Interior colocou o lugar à disposição, depois de reconhecer que “tirar uma vida é algo indesculpável em democracia”. No entanto, acabou por permanecer no cargo depois de o primeiro-ministro ter recusado o pedido de demissão. Apesar dos episódios que envolveram o Governo de Karamanlis, os conservadores conseguiram a reeleição em 2007.

O novo candidato a Presidente da República terá, no entanto, de convencer pelo menos 180 dos 300 deputados gregos para chegar ao Palácio Presidencial. Numa corrida que terá como adversário Nicos Alivizatos, candidato apoiado pelos social-democratas do To Potami.

Poucas horas depois de ser revelado como candidato a Presidente da República, o professor de Direito Constitucional explicou o que o levou a aceitar o convite do líder do partido, Stavros Theodorakis: “Toda a gente tem a obrigação de contribuir para os esforços [coletivos] para lidar com os problemas sem precedentes que o país enfrenta”.

O Parlamento grego vai começar a discutir a eleição do próximo Presidente da República Helénica a partir de quarta-feira e terá três oportunidades para o fazer. Caso não o consiga, a Grécia poderá enfrentar uma nova crise política.

Ainda assim, tendo Prokopis Pavlopoulos pertencido a um Governo da Nova Democracia, que atualmente ocupa 76 lugares no Parlamento, a aritmética parece jogar a favor de Tsipras e do Syriza: a coligação de esquerda radical tem 149 deputados, o parceiro de coligação tem 13 e o partido social democrata conseguiu eleger 76. Somados atingem 238 deputados, votos suficientes para fazer eleger Pavlopoulos.