É o ‘sim’ que se esperava de que a coligação está coesa e que PSD e CDS vão continuar juntos numa aliança pré-eleitoral. E desta vez o sinal veio mesmo de Pedro Passos Coelho, que tem evitado tocar no assunto enquanto decorrem as negociações. A palavra ‘coligação’ não se ouviu, mas os elogios foram de parte a parte. E a mensagem do primeiro-ministro, transmitida esta noite durante a abertura das jornadas conjuntas para o investimento, foi clara: se os dois partidos conseguiram manter-se de mãos dadas durante quase quatro anos de Governo, e debaixo dos ditames de um programa de ajuda financeira, então seriam “bem tolos” se não aproveitassem o balanço e seguissem o caminho da “estabilidade política”. “Continuar” foi a palavra de ordem.

“No passado creio que foi essencial para poder concluir o programa de assistência económica e financeira ter sabido manter a estabilidade política e social. Se o conseguimos fazer num quadro tão exigente como aquele que já deixámos para trás, seriamos bem tolos se desprezássemos o valor dessa estabilidade e dessa confiança para futuro”, disse o primeiro-ministro e presidente do PSD naquela que foi a abertura de um ciclo de sessões políticas para debater o investimento que os dois partidos se preparam para fazer nos próximos dez dias.

O PSD já andava a percorrer o país nas jornadas do “Crescimento, Consolidação e Coesão”, para falar de emprego e crescimento económico. Agora, já com o CDS ao lado, passa-se das jornadas dos três C para as jornadas de um C apenas – de Coligação. E com a sala do Hotel Sana, em Lisboa, cheia de dirigentes de ambos os partidos, assim como membros do Governo, Passos Coelho e Paulo Portas pareceram querer acertar a marcha e começaram a dar sinais mais claros de que querem continuar no mesmo trilho.

As palavras, no entanto, foram escolhidas a dedo. “Se fomos capaz até hoje de responder afirmativamente e manter a estabilidade, agora só depende de nós mostrar aos portugueses que esse trabalho tem de ter continuidade”, sublinhou Passos, acrescentando que “essa estabilidade”, apesar de não ser “um fim em si mesma”, é um “meio indispensável para Portugal ter melhores resultados e mais prosperidade nos próximos anos”. A ideia é semelhante à que o primeiro-ministro já tinha defendido anteriormente, de que a coligação pré-eleitoral interessa se for para ter maioria absoluta. Ou seja, não sendo um fim em si mesma é talvez o necessário para o conseguir.

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Sublinhando que os dois partidos “têm uma responsabilidade muito grande nos tempos que estão para vir”, Passos afirmou que o trabalho que as bases do PSD e CDS vão fazer ao longo dos próximos dez dias por todo o país, nas jornadas do Investimento, não serve só para debater o que “já alcançamos”, mas, e principalmente, para falar “daquilo que podemos concretizar num futuro próximo”.

Paulo Portas, que tinha falado antes do primeiro-ministro, preferiu ser mais cauteloso nos sinais de união e virou-se para o ataque ao adversário comum, o PS. Ainda assim, com o momento da escolha eleitoral dos portugueses cada vez mais próximo no horizonte, Portas fez questão de não largar a mão do parceiro de Governo: “A nossa maioria é bastante melhor do que o PS”, disse. O discurso, que se centrou na valorização do trabalho feito pelo atual Governo em contraponto com os “erros do passado” cometidos pelo PS, soou a apelo ao voto. Ao voto na maioria PSD/CDS.

“Nós já sabemos, eu acho que todos os portugueses sabem, que a nossa maioria é muito melhor que o PS quando se trata de gerir finanças públicas, prudentes, razoáveis, sem irresponsabilidades. E nós também sabemos – porque foi o trabalho feito com o esforço dos portugueses que permitiu isso -, que a nossa maioria é bastante melhor do que os socialistas a promover o crescimento económico”, disse.

O único sinal de que esta união pode não ser perfeita surgiu já às portas da sala do Hotel onde decorreu a conferência, e já sem os dois líderes lado a lado. Depois de Passos Coelho abandonar o edifício sem fazer declarações aos jornalistas, Paulo Portas ainda teve tempo para deixar uma nota sobre as últimas declarações do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Aproximando-se de Juncker e afastando-se do PSD, que tinha classificado as declarações de “infelizes”, Portas sublinhou que o pedido de ajuda externa foi um “vexame” e recordou-o mesmo como um dos dias em que teve “mais vergonha”.