Equiparar Portugal à Grécia não, aí o Governo está de acordo. E o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, voltou a reiterá-lo esta quinta-feira à noite durante a abertura das jornadas do investimento. Mas se a troika pôs ou não pôs em causa a dignidade dos portugueses, como disse esta quinta-feira Jean-Claude Juncker, aí já não tanto. Depois de o ministro da Presidência, Luís Marques Guedes, ter classificado as declarações de “infelizes”, Paulo Portas prefere agora lembrar a “hipocrisia do FMI” e o “vexame” da vinda da troika.
“Ouviram-me muitas vezes dizer que o co-Governo com o sindicato de credores era um vexame para uma nação com nove séculos de história, e ouviram-me muitas vezes criticar as divergências e até alguma hipocrisia entre as lideranças políticas do FMI, que diziam uma coisa e depois as equipas técnicas no terreno diziam outra”, afirmou o líder do CDS aos jornalistas à margem da sessão de abertura das jornadas do investimento, organizadas em conjunto pelos dois parceiros de coligação.
E lembrou, mesmo, quando questionado sobre se concordava afinal com as declarações do presidente da Comissão Europeia, que “o dia em que Portugal pediu resgate de mão estendida” foi “um dos dias da [sua] vida política em que teve mais vergonha”.
Esta tarde, no final do Conselho de Ministros, o ministro da Presidência, Luís Marques Guedes, tinha tido uma atitude diferente face às polémicas declarações de Juncker. “Nunca a dignidade foi beliscada quer pela troika quer por algumas das suas instituições”, disse aos jornalistas, classificando as palavras do presidente da Comissão Europeia, que chegou ao cargo com o apoio quer do PSD quer do CDS, como “infelizes”.
O braço-de-ferro da Grécia na Europa, que tem feito os partidos da esquerda pedir ao Governo uma postura mais solidária para com os gregos, também não passou em branco a Portas, que arriscou mesmo dizer que se Portugal mostrasse mais solidariedade com a Grécia, então os juros da dívida portuguesa disparavam e desceria a confiança dos investidores externos no país.
Sublinhando que o país não está “livre de incertezas”, porque “há muitas crises no panorama internacional” que representam riscos para a economia portuguesa, Portas preferiu demarcar a atitude escolhida pelo atual Governo daquele que seria o caminho escolhido pelo PS se estivesse no poder.
“Uma boa pergunta em matéria de prevenção de riscos é esta: quem serve melhor a economia portuguesa? Quem soube proteger Portugal do contágio com situações de crise, ou aqueles que à primeira situação de crise noutro país correm a fazer uma solidariedade internacional que teria feito disparar os nossos juros e descer a confiança em Portugal?”, questionou perante uma plateia cheia de dirigentes do PSD e CDS, reunidos no Hotel Sana, em Lisboa. “Alguém me consegue explicar a vantagem de misturar o que não deve ser misturado?”, atirou comparando os juros da dívida portuguesa e gregos e afastando decididamente os dois países um do outro.