O Presidente da República lembrou nesta sexta-feira o “patriotismo republicano” e o “amor à liberdade” do antigo político José Medeiros Ferreira, caracterizando-o como “um homem adverso a dogmas e lugares-comuns”.
“José Medeiros Ferreira foi sempre um homem adverso a dogmas e a lugares-comuns. Num tempo tão dominado pelo acessório e pelo frívolo, escutávamos a sua palavra, mesmo que discordássemos dela, como o produto de uma reflexão própria e autónoma, jamais condicionada por interesses ocasionais ou objetivos políticos imediatistas”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, na sessão de encerramento do colóquio de homenagem ao antigo político, que morreu a 18 de março de 2014.
Numa breve intervenção, Cavaco Silva recordou o percurso de José Medeiros Ferreira, destacando duas características essenciais da sua “personalidade multifacetada”: o amor ao seu país, que lhe permitiu ser, simultaneamente, “um português açoriano e um europeu atlantista” e o amor à liberdade.
“Espírito livre e independente, José Medeiros Ferreira amava as ideias e o seu debate, desde que feito com elevação e dignidade. Nunca recorreu a ataques pessoais ou à violência verbal para fazer valer os seus argumentos ou pontos de vista, pois estes assentavam no poder da razão e eram fruto de uma reflexão serena e amadurecida”, sublinhou, lembrando a sua luta pelo “ideal de um país democrático”.
Na ação política, continuou, integrou “o código genético do Estado democrático”, afirmando-se como “um governante notável da jovem democracia, que serviu em momentos difíceis e de grande exigência”.
Enquanto académico, marcou gerações e mereceu respeito unânime entre os seus pares, e como historiador e especialista em questões internacionais “conseguiu conciliar a teoria e a prática, aliando a sua experiência política e governativa a análises de impressionante lucidez”, acrescentou o Presidente da República.
“Medeiros Ferreira afirmou-se no espaço público como um pensador realista, que rejeitava utopias fugazes mas não abdicava da capacidade de sonhar. Sonhou com uma Europa mais coesa e unida, mais solidária e fraterna. Sonhou com um país livre e democrático, mas também com uma sociedade mais informada. Após a luta contra o autoritarismo, foi esse o seu grande combate em democracia. Nunca se cansou de pugnar por uma República construída no leal confronto das ideias e por uma cidadania mais participante e ativa”, vincou, considerando que “Portugal tem uma dívida de gratidão para com José Medeiros Ferreira”.
Antes da intervenção de Cavaco Silva, o antigo Presidente da República Ramalho Eanes tinha recordado os “talentos de espírito e qualidades de temperamento” de Medeiros Ferreira e assinalado o seu “norteamento ético”.
“Ser verdadeiro por dever é coisa totalmente diferente de o ser por medo das consequências prejudiciais ou por desejo de injustas benesses pessoais. A história pessoal de Medeiros Ferreira mostra como procurou ser verdadeiro por dever, como se empenhou com coerente constância em ser ele próprio a sua obra, uma obra de muitas realizações”, disse.