O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, exortou o Governo de Alexis Tsipras a usar os quatro meses extra que conseguiu do Eurogrupo para implementar o plano de reformas a que se comprometeram. Caso contrário, no futuro, a corda vai romper-se, alertou o alemão.
Em entrevista ao canal de televisão alemã ARD, Schäuble deixou vários avisos à navegação grega: se a Grécia não cumprir o conjunto de reformas a que se propôs implementar não haverá mais financiamento europeu.
“Eu espero que eles [gregos] o façam pelos interesses da Grécia e pela responsabilidade que têm perante a Europa. Mas principalmente pelos seus próprios interesses. A Grécia precisa mesmo de compreender que, se quiser ajuda, precisa de manter os acordos que fez”, sublinhou ministro das Finanças alemão.
Perante um eventual incumprimento dos prazos de pagamento do empréstimo, um cenário que parece ganhar força depois do próprio Governo grego ter reconhecido que vai enfrentar dificuldades para pagar aos credores internacionais no próximo verão, Schäuble não deixou palavras muito animadoras para a Grécia:
“Se [o ministro das Finanças] não fizer o primeiro pagamento, isso vai ser considerado um default. Não gostaria de estar no lugar dele, carregando as responsabilidades do que iria acontecer à Grécia depois. (…) [Se os gregos não cumprirem] a Grécia não vai receber os fundos europeus. Mas isso está exclusivamente nas mãos das pessoas que têm responsabilidades em Atenas”, afirmou Schäuble.
Os avisos de Dijsselbloem
Também Jeroen Dijsselbloem, ministro das Finanças holandês e presidente do Eurogrupo, afinou pelo mesmo diapasão. Em entrevista ao Financial Times, Dijsselbloem deixou um recado claro ao Governo de Alexis Tsipras: comecem já a implementar o programa de reformas, caso contrário, no final de abril – altura em que a Grécia deverá fechar a avaliação com as “instituições”, antes conhecidas como Troika – poderão enfrentar “problemas maiores”.
“A minha mensagem para os gregos é: tentem começar o programa mesmo antes do processo de renegociação estar terminado. Existem aspetos que vocês [gregos] podem começar a fazer hoje. Se o fizerem, talvez em março possa haver uma primeira transferência de fundos. Mas isso requer progresso e não apenas intenções. Se passarmos dois meses a conversar e sem fazer nada, no final de abril vai haver “problemas maiores”, sublinhou Jeroen Dijsselbloem.
O acordo alcançado entre a Grécia e os parceiros do Eurogrupo foi saudado por ambas as partes, mas existe uma cláusula que os gregos têm de cumprir sob o risco de todo o trabalho feito até agora ruir: a Grécia tem de adotar urgentemente um conjunto de reformas para colocar um travão à dívida pública – como aliás fizeram questão de lembrar Schäuble e Dijsselbloem. Atenas deverá também pagar 4,3 mil milhões de euros até março, como parte do programa de assistência financeira que subscreveu. Uma hipótese que muitos analistas parecem classificar nesta altura como muito improvável.
O próprio ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, em entrevista a Associated Press, sugeriu que os pagamentos das obrigações para com Banco Central Europeu deveriam ser renegociados – a Grécia deve ao BCE, uma das “instituições” que compunham a troika, 6,7 mil milhões de euros, um valor que deve ser devolvido entre julho e agosto. Isto, apesar de o próprio ter garantido que todos os credores internacionais seriam reembolsados integralmente e de isso ter ficado escrito no acordo com o Eurogrupo. Mau sinal para Bruxelas?