Isabel dos Santos volta a baralhar os negócios em Portugal. Depois da oferta sobre a Portugal Telecom, que não chegou a ir ao mercado, a empresária angolana está a preparar uma resposta à oferta pública de aquisição (OPA) da CaixaBank sobre o BPI que passa pela fusão entre o BCP e o BPI. A proposta formal já seguiu por carta para os presidentes dos dois bancos nacionais e do banco catalão. O Millennium está disponível para analisar uma eventual fusão. A resposta do BPI foi revelar a carta assinada pelo presidente da Santoro, Mário Leite Silva, que é também administrador do Banco Português de Investimentos. A gestão de Fernando Ulrich, que está limitada pela OPA, não se pronuncia.

O cenário proposto, e que foi conversado com a gestão do BCP e a sua maior accionista, a também angolana Sonangol, é a alternativa de Isabel dos Santos para contrariar a ofensiva catalã sobre o Banco Português de Investimentos. O objetivo é travar a OPA, ou pelo menos, reforçar a margem para negociar uma solução que lhe seja mais favorável no xadrez criado pela oferta da CaixaBank. A empresária angolana considera que a oferta catalã não reflete o valor do BPI e coloca em causa a independência da gestão do banco.

A empresária, filha do presidente angolano, tem cerca de 19% do BPI e é uma peça chave para o sucesso da estratégia do banco catalão de garantir o controlo da instituição portuguesa. Mais do que capital, o CaixaBank quer direitos de voto e para isso precisa eliminar o limite de 20%. Em jogo está também o futuro do BFA (Bando do Fomento Angola), um dos maiores bancos angolanos onde o BPI tem a maioria do capital, tendo Isabel dos Santos como parceira.

A notícia da proposta de fusão, avançada pelo Expresso na segunda-feira, surge em vésperas de uma reunião decisiva do conselho de administração liderado por Fernando Ülrich que reúne esta quarta-feira para analisar a resposta que a gestão do banco vai dar à OPA do CaixaBank. À mesma mesa deverão estar sentados Isidro Fainé, presidente do CaixaBank e administrador do BPI, e Mário Leite Silva, o representante da Santoro (holding de Isabel dos Santos). Os catalães, enquanto parte interessada, não deverão tomar parte da votação. O BPI deverá anunciar até quinta-feira qual a sua resposta à OPA espanhola, com a maioria dos analistas a antecipar uma sinalização de que o preço oferecido é baixo, porque não incorpora o prémio de controlo.

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Numa reação a quente à notícia, o presidente da CaixaBank desvalorizou o plano alternativo de Isabel dos Santos à sua OPA. “Não creio que essa notícia signifique isso (que um acordo entre Isabel dos Santos e o banco catalão está mais longe). Acabámos de iniciar o jogo e durante um jogo há momentos que a uns parece uma coisa e a outros o contrário. Há essa notícia, mas eu tenho um ‘input’ diferente desse”, respondeu Isidre Fainé, citado pela agência Lusa. O presidente do banco catalão, que detém 44,1% do BPI, disse ainda que “há que esperar que a OPA corra o tempo que tem de ser. Serão os factos a mostrar o que realmente vai acontecer”, sublinhou.

O maior banco teria angolanos como principais investidores

Uma fusão entre o BCP e o BPI, várias vezes tentada no passado, criaria o principal banco português, só perderia em depósitos para a Caixa, em que a maior fatia do capital, mais de 20%, pertenceria a investidores angolanos, segundo as contas do Jornal de Negócios. O La Caixa ficaria com uma posição de 13,4% equivalente à detida pela petrolífera estatal angolana.

Um alinhamento de forças que poderá não passar junto dos reguladores. Pelo menos essa é a leitura feita no Diário Económico segundo o qual, o Banco de Portugal não veria com bons olhos a criação de um grupo bancário desta dimensão com uma fatia tão substancial do capital, detida por investidores de um só país, neste caso Angola. 

Na carta, remetida pela holding de Isabel dos Santos, a Santoro realça que pretende um núcleo acionista forte e diversificado e uma gestão portuguesa independente para a instituição que resultasse da junção do BCP com o BPI. Mas para já, esta é uma iniciativa dos acionistas, neste caso angolanos.

Menos um concorrente ao Novo Banco

Desconforto à parte, junção do BCP com o BPI teria ainda outro efeito de pouco agrado para as autoridades portuguesas. Iria retirar da corrida um competidor de peso à compra do Novo Banco. A mera coincidência temporal dos dois negócios iria ainda pressionar os reguladores, financeiro e da concorrência, na análise dos dois dossiês. A operação teria ainda de ir a Bruxelas e ao governo, na medida em que o BCP ainda não devolveu na totalidade a ajuda pública que recebeu. Isto não obstante, o ministro da Economia, Pires de Lima ter rejeitado comentar a oferta, com o habitual argumento de que o executivo não interfere em negócios privados.

A Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) terá pedido esclarecimentos a Isabel dos Santos na segunda-feira, depois da proposta de fusão ter sido revelada pelo Expresso, mas até ao final da manhã não tinha sido dada qualquer explicação pública nem da Santoro, nem do BCP ou do BPI. As ações dos dois bancos abriram a sessão a valorizar mais de 7%, mas o BCP já está limitar os ganhos com uma subida de de 4,7%. O BPI mantém-se em forte alta de 7,7%, a indiciar que os investidores esperam, no mínimo uma revisão em alta do preço oferecido pela CaixaBank que já foi ultrapassado pela cotação em bolsa.