A comissão executiva do BCP confirma ter recebido uma proposta de fusão com o BPI feita pela Santoro, holding de Isabel dos Santos, e “manifesta disponibilidade para analisar a operação”, havendo interesse da parte do BPI. O banco liderado por Nuno Amado revela que a carta da Santoro faz a “promoção junto das administrações do Banco BPI e Millennium bcp da análise de uma operação de fusão entre as duas entidades.”
O banco diz que, “havendo interesse do Banco BPI, a Comissão Executiva do BCP manifesta a sua disponibilidade para analisar a referida operação, com respeito pelo circunstancionalismo regulamentar aplicável”. No entanto, ressalva que isso não pode ser entendido como a garantia de que se vá concretizar alguma operação ou ainda que já foi tomada qualquer decisão sobre uma fusão com o BPI. Também a instituição liderada por Fernando Ulrich deverá emitir algum esclarecimento ao mercado, por notificação da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que pediu a divulgação da proposta feita por Isabel dos Santos. A CMVM também terá pedido esclarecimentos à holding de Isabel dos Santos que é acionista do BPI.
A CMVM levantou, entretanto, a suspensão das ações dos dois bancos em bolsa, que estivera interrompida até à divulgação de informação relevante, numa altura em que o BCP e o BPI estavam a registar fortes valorizações. O Millennium está a ver as ações valorizarem 4,1% e o BPI subia 8,1%.
A Santoro Finance, sociedade controlada por Isabel dos Santos, enviou esta segunda-feira uma carta aos presidentes do BCP, BPI e CaixaBank em que avança com uma proposta de análise de fusão entre o BCP e o BPI, confirmou o Observador. A proposta refere como objetivos a criação do maior banco privado com sede em Portugal e posições importantes nos mercados de Angola, Moçambique e Polónia, onde está o BCP. De fora desta estratégia fica o Novo Banco, para o qual o BPI pretendia apresentar uma proposta de compra.
Na sua proposta, a empresária angolana defende que a instituição resultante da junção dos dois principais bancos privados portugueses deverá ter uma gestão profissional portuguesa e independente dos acionistas e um núcleo acionista forte, coeso, mas diversificado. O primeiro compromisso é uma resposta à esperada desconfiança do lado português face à perspetiva de ter o maior banco português dominado ou fortemente influenciado por capital angolano. A fusão entre os dois bancos terá de passar no crivo do Banco de Portugal, mas também o governo e Bruxelas serão chamados a pronunciar-se devido à ajuda pública que o BCP ainda não devolveu. Mais problemática seria a avaliação do impacto da operação na concorrência. É certo que serão exigidos remédios, tal como sucedeu quando o regulador analisou a OPA do BCP sobre o BPI lançada em 2006.
Já a referência a um núcleo de acionistas diversificados pode ser encarada como uma porta aberta ao CaixaBank que seria, a par da Sonangol, o maior acionista individual do BCP/BPI ou Millennium BPI. Segundo o Expresso, Isabel dos Santos teria já abordado a petrolífera estatal angolana que é a maior acionista do BCP com quase 20%. Não terá sido por acaso que o Millennium foi o primeiro a comunicar a proposta e a disponibilidade para a analisar. A maioria do capital dos dois bancos já está hoje nas mãos de investidores estrangeiros.
O estudo de uma fusão entre o BCP e o BPI é a alternativa de Isabel dos Santos à oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela CaixaBank sobre o Banco Português de Investimentos onde a empresária angolana é a segunda maior acionista com cerca de 19% do capital. Esta abordagem demonstra ainda que para a empresária, o investimento na banca portuguesa é mais do que uma participação financeira, tem uma dimensão estratégica. Mas para ter viabilidade, a estratégia precisa da abertura por parte do maior acionista do BPI e os responsáveis do banco catalão, que controlam 44% do capital, já sinalizaram a sua reserva. Ontem, o presidente não executivo, Isidre Fainé reagiu com palavras de desafio: “o jogo ainda agora começou”.
“Não creio que essa notícia signifique isso (que um acordo entre Isabel dos Santos e o CaixaBank está mais longe). Acabámos de iniciar o jogo e durante um jogo há momentos que a uns parece uma coisa e a outros o contrário. Há essa notícia, mas eu tenho um ‘input’ diferente desse”, respondeu o presidente do banco catalão, citado pela Lusa.
A carta terá sido enviada segunda-feira ao final do dia para Fernando Ulrich, Nuno Amado e Gonçalo Gortázar, presidente executivo do CaixaBank, no mesmo dia que em o Expresso avançou com a notícia. O Observador ainda não conseguiu confirmar junto destas entidades se já receberam a proposta da empresária angolana. A carta é assinada por Mário Silva, presidente da Santoro e administrador não executivo do BPI.
Aguarda-se que a Santoro, o BPI ou BCP, possam em breve emitir algum esclarecimento sobre estas movimentações que já foi pedido pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. Em bolsa, as ações dos dois bancos voltaram a acelerar ganhos. O BCP valoriza 6,7% e o BPI salta mais de 8%, negociando nos 1,47 euros, já bem acima da oferta da CaixaBank.