O acidente vascular cerebral é a maior causa de incapacidade a longo prazo em Portugal segundo os cardiologistas. Esta e outras doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de morte em Portugal (30,4%) em 2012, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Mas enquanto os homens são mais afetados por uma deficiente irrigação do coração, as mulheres sofrem mais de doenças relacionadas com a circulação sanguínea no cérebro. Ainda assim, mesmo quando morrem da mesma doença, elas vivem mais anos que eles.
Quando uma parte do cérebro deixa de receber sangue, seja porque uma artéria rebentou, seja porque está entupida com gordura, pode ocorrer um acidente vascular cerebral (AVC). Esta será muitas vezes uma doença incapacitante, com a imobilização de uma parte do corpo, a dificuldade em falar ou a perda de memória, mas também pode causar a morte. Entre as mulheres, é mais mortal que as doenças oncológicas, refere um estudo da National Stroke Association.
As doenças do sistema circulatório não estão alheadas dos comportamentos ao longo da vida. O excesso de consumo de sal que provoca hipertensão, o excesso de consumo de gorduras que pode elevar os níveis de colesterol, o excesso de peso e a obesidade, assim como a diabetes e o tabagismo, são os principais fatores de risco associados ao AVC. “Um estilo de vida saudável, com a redução do sal, das gorduras e dos alimentos ricos em açúcar e outros hidratos de carbono, a prática de exercício físico regular e o controlo médico periódico são muito importantes [para prevenir a doença]”, explica ao Observador Pedro Monteiro, cardiologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
O acumular dos maus hábitos de saúde fazem com que as doenças apareçam com a idade, sobretudo depois da menopausa. “Alguns fatores de risco para AVC como hipertensão, fibrilhação auricular, diabetes, enxaqueca com aura visual e depressão são mais comuns nas mulheres, sobretudo nas mais idosas”, acrescenta o médico. Recuperar do AVC também não é fácil para estas mulheres. Como têm uma esperança média de vida superior à dos homens, o que muitas vezes implica que já estejam viúvas e sozinhas, e como são mais propensas a sofrer de depressão, a recuperação pode ser prejudicada.
“A fibrilhação auricular é um tipo comum de arritmia cardíaca, que afeta pelo menos 2,5% da população portuguesa com mais de 40 anos”, explica Pedro Monteiro. Os batimentos cardíacos irregulares podem levar à formação de coágulos no interior do coração que, depois de libertados, podem viajar até ao cérebro e impedir a circulação de sangue, provocando um AVC. O risco aumenta com a idade porque também resulta do acumular de outros problemas de saúde: hipertensão, excesso de peso, diabetes ou tabagismo.
A obesidade e a idade parecem ser fatores importantes para o aparecimento destas doenças. Perceber se as mulheres aumentam de peso depois da menopausa e por que motivo isso acontece pode ser fundamental para lidar com este problema. Um estudo publicado em 2013 com quase 500 mulheres da região de Lisboa entre os 42 e os 60 anos, mostrou que a maioria (69%) das mulheres ganhou peso da fase pré-menopausa, em que ainda não há alterações do ciclo menstrual, para as fases peri e pós-menopausa, em que o ciclo começa a ter perturbações ou é totalmente interrompido, respetivamente.
O estudo conduzido por Filipa Pimenta, investigadora no William James Centre for Research, Unidade de Investigação em Psicologia do ISPA, avaliou ainda que fatores podem ter conduzido a este aumento de peso. E verificou que entre as inquiridas – mulheres casadas ou em união de facto, profissionalmente ativas, com filhos, licenciadas e saudáveis -, as “que ganharam peso tendiam a ter menos habilitações literárias, a fazer menos exercício, a identificar a presença de um problema psicológico recente e a ter mais preocupações com a forma corporal”, lê-se no comunicado de imprensa. Os resultados foram publicados na revista científica Journal of Health Psychology.