A crise financeira que se vive na Petrobras corre o risco de extravasar a empresa e afetar uma parte significativa do setor público e privado brasileiro, escreve a Moody’s num comentário enviado aos investidores no dia 10 de março.

No documento de nove páginas sobre os efeitos da crise da Petrobras, os analistas de uma das três maiores agências de notação financeira do mundo explicam que “os problemas da companhia petrolífera nacional vão afetar a cadeia de produção de petróleo e gás no Brasil, os setores da construção e infraestruturas e até o Estado do Rio de Janeiro, a sede do quartel-general da empresa e da maioria das suas operações”.

No relatório aprofundado sobre a Petrobras, a Moody’s exemplifica que a petrolífera brasileira “suspendeu provisoriamente contratos com 23 empresas de construção e engenharia e outros grupos empresariais acusados de participarem num cartel” e sublinha que não são só pequenas empresas, havendo também subsidiárias de grandes companhias brasileiras como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez.

A degradação da qualidade do crédito da Petrobras, cujo ‘rating’ foi revisto em baixa no final de fevereiro pela Moody’s, também contribui para piorar a situação dos fornecedores, incluindo os produtores de grandes equipamentos de perfuração de petróleo e navios que servem de apoio ao esforço vital de produção ao largo da costa [off-shore].

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“O aumento do risco de renegociações ou cancelamento de contratos ameaça enfraquecer a qualidade de crédito de várias companhias detentores de navios e de operadores que tenham contratado serviços relacionados com o petróleo e o gás à Petrobras por vários anos”, sublinha a Moody’s.

As ramificações da crise da Petrobras estendem-se também ao setor financeiro, diz a agência de notação financeira: “As consequências da investigação à corrupção na Petrobras vão piorar o que já de si será um ano sombrio para os bancos brasileiros, e qualquer aumento de provisões para cobrir as perdas na Petrobras, nos seus fornecedores e no setor do gás e petróleo vai enfraquecer os resultados dos bancos”.

Por outro lado, também o Estado do Rio de janeiro pode ser penalizado, porque os cortes na despesa da empresa, previstos para este e o próximo ano, “reduzem as receitas fiscais e diminuem as taxas obtidas neste setor”, conclui a Moody’s.

No passado dia 6 de março, o Supremo Tribunal ordenou a abertura de investigações contra 49 pessoas, entre senadores, deputados e antigos parlamentares de cinco partidos políticos, suspeitos de estarem ligados ao escândalo de corrupção que envolve a empresa.

Em causa está uma investigação das autoridades, que já dura há um ano, sobre os negócios feitos entre empresários e responsáveis da Petrobras, que influenciavam os preços e depois dividiam os lucros com os diretores da empresa do Estado, distribuindo também dinheiro a políticos de forma dissimulada.