O advogado de José Sócrates, João Araújo, deu uma entrevista ao jornal i, onde acusou os jornalistas e comentadores de falarem sobre a Operação Marquês sem estarem na posse de todos os factos. Ou, nas palavras do advogado, de serem como os “bêbados que regressam a casa e deixam cair a chave, mas em vez de a procurarem onde a deixaram cair vão procurar ao pé de um candeeiro para terem luz”.
Numa entrevista marcada por novas críticas à investigação conduzida pelo procurador do Ministério Público (MP), Rosário Teixeira, e à atuação do juiz Carlos Alexandre, João Araújo voltou a lançar dúvidas sobre a legalidade de todo o processo. “Eles têm estado a conduzir este processo muito bem. O que não quer dizer é que estejam a conduzi-lo no caminho da lei. E mantenho a afirmação que o conjunto de ilegalidades é gritante“, defendeu.
Um caminho que, garante, tem conduzido à condenação na praça pública de José Sócrates e à incompreensão generalizada de todo o processo:
“Não posso esperar que as pessoas compreendam o que não sabem, o que não leram. (…) O que dizem é uma versão do seu pensamento. Lá está, vão buscar a chave abaixo do candeeiro, são bêbados”, insistiu João Araújo.
Quanto à questão que tem servido de pingue-pongue entre MP e a defesa de Sócrates – as dúvidas em relação ao quadro temporal em que se inserem os crimes, alegadamente, cometidos por José Sócrates, que, caso se confirmem que remontam ao período em que o socialista era primeiro-ministro, poderiam ditar a irregularidade de todo o processo – João Araújo não tem dúvidas: a atribuição do caso ao Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) fez parte de uma estratégia concertada pelo procurador Rosário Teixeira.
“Quando um magistrado do MP escreve uma imputação de factos a primeira obrigação dele é escrevê-la de modo a que seja entendível, clara. Mas o doutor Rosário Teixeira não é burro, não é analfabeto. Ele sabe escrever e se ele escreveu em termos suficientemente ambíguos para permitir duas ou mais leituras fê-lo porque quis”, afirmou o advogado de José Sócrates
Mais: João Araújo garante que a defesa de José Sócrates foi deliberadamente ludibriada pelo MP desde o início. “Ponha-se no meu lugar: se quando fui ao tribunal me tivessem dito claramente que o meu cliente enquanto primeiro-ministro tinha sido corrompido ou tinha encaixado uma quantidade de massa eu tinha dito: Alto e para o baile que este não é o tribunal competente. Ou seja, o MP evitou que a questão fosse colocada no início, no momento da detenção, permitindo assim fixar a competência no TCIC”, reforçou.
Além de repetir as críticas à forma como os magistrados do MP e o juiz Carlos Alexandre têm conduzido o processo, o advogado de José Sócrates voltou a insistir que o ex-primeiro-ministro não sabe, verdadeiramente, de que crimes é acusado. Isto depois de o Tribunal da Relação de Lisboa, na sequência da rejeição do recurso interposto pela defesa de José Sócrates, ter referido o crime de tráfico de influências, um crime não mencionado pelo MP. Ora, para João Araújo, esta é mais uma prova de toda a indefinição que assombra a “Operação Marquês”.
“Podiam até eventualmente considerar que também há homicídio, lenocínio. Pode haver enfiteuse. Pode haver uma quantidade de coisas. Eu só queria que eles se entendessem e me dissessem ao que ando. Para mim também é um bocado difícil andar a saltar de crime em crime. Eu já levo tempo desta marmelada que conviria que pudessem formular com clareza e rigor o que pretendem do meu constituinte”, apelou.
Em relação à amizade entre José Sócrates e o empresário Carlos Santos Silva, que tantas suspeitas tem levantado à investigação, João Araújo considera que “a questão das amizades dos outros são coisas em que não nos devemos meter, a menos que haja razões bastantes para se considerar que existe algo infracional”. Até porque “cada um é dono de si”, lembrou o advogado.
De resto, João Araújo mostrou-se confiante na libertação do antigo primeiro-ministro, até porque, se “ele está preso ilegalmente, porque não há-de ser libertado?”, questionou. Apesar de garantir que “nunca tive [teve] dúvidas” sobre a inocência de José Sócrates, o advogado deixou, por fim, um aviso enigmático: “As coisas ainda não chegaram ao ponto em que o vão libertar”.