Bica, cimbalino, americano, garoto, pingado ou abatanado. Em chávena escaldada, fria, uma banheira ou uma italiana. Estas são apenas algumas das formas de pedir café em Portugal. Já são muitas, de facto, mas um trio de dinamarquesas, Susan, Helle e Ida, quis complicar ainda mais as coisas. Para dar a conhecer o café dinamarquês e as várias formas de o servir, as três mudaram-se para Portugal em dezembro do ano passado com uma missão: abrir uma coffee shop. E conseguiram fazê-lo, no passado dia 23 de março.
A brincadeira começou numa carrinha de rua onde serviam várias bebidas de café com apenas uma máquina expresso. Marcaram presença em todos os festivais, eventos, reuniões de street food ou de food trucks. Há dois meses encontraram um espaço na Praça das Flores, uma das zonas mais carismáticas de Lisboa — e em intenso crescimento nos últimos meses — e montaram um café, de raiz, com as suas próprias mãos.
O Copenhagen Coffee Lab existe também na Dinamarca. Susan e Helle Jacobsen, gémeas — que mesmo os clientes assíduos vão correr o risco de confundir — e Ida de Magos, de origens lusas, desafiaram o proprietário deste Coffee Lab a abrir a primeira loja fora do país, em Portugal. Todo o café que servem é importado, torrado e preparado pela empresa nas suas instalações de torrefação, em Copenhaga.
O chef do Noma bebe deste café.
O restaurante Noma, em Copenhaga, considerado o melhor restaurante do mundo pelo The World’s 50 Best, tem como responsável de cozinha supremo René Redzepi, um génio da gastronomia molecular. Num roteiro de Copenhaga que o chef sugeriu ao The Telegraph, em maio do ano passado, René refere: ” (…) mesmo ao lado há outra excelente coffee shop – o Copenhagen Coffee Lab – um espaço neoclássico onde param os grandes nerds do café, os maiores aficionados por estas gotas douradas”.
Não, o café filtrado não é todo igual.
Na ardósia do Coffee Lab, um dos poucos elementos que contrasta com o minimalismo nórdico da sala , estão listados mais de uma dezena de cafés diferentes. Três deles são cafés filtrados: o aeropress, o french press e o v60. Apesar de o processo de filtragem ser semelhante, cada um usa a sua própria geringonça e método. Os cafés filtrados exigem rigor na temperatura e na quantidade da água, na pesagem do café e no tempo de espera. No caso do aeropress, feito neste utensílio que pode ver em baixo, o resultado é um café claro, com tons de caramelo.
Café com leite? Tem muito que se lhe diga.
Mesmo que cada bebida de café esteja acompanhada por uma precisa descrição — em português, apesar delas não falarem a língua de Camões — as três meninas do Coffee Lab fizeram questão de colocar um gráfico no balcão para erradicar qualquer dúvida sobre o casamento café/leite e suas particularidades. Veja-se o exemplo do flat white, um tipo de bebida que se poderia confundir com um caffe latte não fosse a ausência, crucial, de espuma.
Um bom café não tem de ser muito torrado.
Português que se preze gosta de um café forte, corpulento, torrado. Ao sorver um pouco deste exemplar dinamarquês convém ter a mente aberta. Primeiro, os dinamarqueses preferem a espécie de café arábica, ao contrário da robusta, mais comum em Portugal. Segundo, é um café com menos torrefação e, por isso, mais suave. Está a meio caminho entre o chá e o café. É aromático e mais frutado do que o café a que o português está habituado. Por falar em chá, experimente o chai latte, uma bebida quente e reconfortante à base de especiarias. Bom para os que não são adeptos/amantes da cafeína.
Sourdough. Sabe o que é?
Numa tradução livre, sourdough significa massa azeda. É um tipo de massa de pão que passa por processos bacterianos especiais que lhe conferem um sabor amargo. No Coffee Lab, é usado para fazer o rye bread, um pão tipicamente dinamarquês, escuro, feito com centeio e sementes. É servido com manteiga e compota (1,50€). Apesar dos dinamarqueses acompanharem a maioria das refeições com pão escuro, ao pequeno-almoço preferem-no mais claro. Experimente um ou outro no menu da manhã, acompanhado com um café à escolha e um docinho do dia (5€), que a priori será um cinnamon bun, uma espécie de pão de canela.
Batalhas de café vão acontecer aqui.
Susan, Helle e Ida já travaram conhecimento com vários baristas lisboetas, o que as fez pensar: porque não trazer as coffee battles para Lisboa? Não se trata de infligir queimaduras de segundo grau a terceiros, mas antes de uma competição saudável para descobrir o melhor barista da cidade. Esta arte da cafeína implica grandes doses de talento, sentido estético e muita prática para criar, por exemplo, os famosos desenhos em espuma de café, que tantas interjeições incitam. Podem ser corações, rosetas ou tulipas, mas o cinturão negro do café é mesmo o cisne. “Ainda não o consigo fazer”, lamenta Susan, “tenho de continuar a treinar!”. Fique atento à página de facebook da loja para saber quando acontecerão tais batalhas.
Pode beber, mas também pode levar para casa
Todo o café torrado nas instalações do Copenhagen Coffee Lab da Dinamarca vem para Portugal em bonitos pacotes reciclados com o selo da marca. Esse café, que é despejado nos moinhos da loja lisboeta, também está exposto nas prateleiras do espaço. Para já estão à venda três tipos, de três origens: Brasil, Quénia e Etiópia. Os sacos custam 10€/250gr e 28€/1000gr. Experimente in loco primeiro, compre depois.
Nome: Copenhagen Coffee Lab
Morada: Rua Nova da Piedade, 10 (Praça das Flores, Lisboa)
Telefone: 91 660 4054
Horário: Todos os dias das 08h00 às 22h00.