Nenhum elemento no local onde o Airbus A320 da Germanwings caiu, nos Alpes franceses, é recolhido ao acaso. Há pelo menos dois manuais internacionais que ditam como proceder na identificação de vítimas em caso de grandes catástrofes. O terreno deve ser dividido em quadrículas, devem ser feitas fotografias aéreas e só depois começar a recolher, a fotografar e a armazenar todos os vestígios. Paralelamente, há equipas a falar com familiares e amigos das vítimas. O objetivo é cruzar tudo o que encontrarem com as informações sobre cada um dos mortos. Só depois se recolhem amostras de ADN.

As equipas no terreno estão a usar pelo menos dois protocolos. Um é da Interpol e chama-se Disaster Victim Identification, outro é da Cruz Vermelha. O ex-presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal, e agora delegado de Portugal no Conselho Europeu de Medicina Legal, explicou ao Observador como tudo funciona.

Segundo Duarte Nuno Vieira, os métodos para identificação dos corpos em situações de catástrofes variam conforme a acessibilidade ao local, as condições dos corpos e as próprias condições técnicas. “Neste caso os corpos devem estar muito fragmentados. Mas a França não tem os mesmos meios tecnológicos que Papua-Nova Guiné”, exemplifica.

Depois, todo o processo de identificação “é comparativo”. O caso do avião Airbus 320 “é um desastre fechado”. Ou seja, as autoridades têm uma lista com os nomes de todas as vítimas, o que não aconteceria se fosse um acidente de comboio, por exemplo.

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“Terá que ser feito um estudo comparativo entre os dados ante-mortem e post-mortem, mas como os corpos estão fragmentados vai ser preciso ADN para comparar”, refere Duarte Nuno Vieira.

Os métodos de identificação dividem-se em primários, ou científicos, e em secundários. Nos primários estão as impressões digitais, os perfis dentários, alguns elementos médicos, como uma prótese ou um pacemaker, que têm um número de identificação, e análises de ADN. Depois há todas as características individuais, como cicatrizes, tatuagens, vestuário, objetos de adorno, alianças. E todas estas informações são recolhidas por uma equipa própria junto de familiares e amigos com regras restritas.

Duarte Nuno Vieira esteve na Ucrânia quando foi abatido um avião da Malaysia Airlines perto de Donetsk. A maior parte dos corpos foram identificados através de análises de ADN. Há mais tempo, quando se deu a tragédia Entre-os-Rios, grande parte das 59 vítimas foi identificada pelos objetos pessoais, e a identificação foi depois confirmada por via do ADN.

“Lembro-me de estar na Galiza, onde apareceram algumas vítimas, a fotografar vestígios e a mandar as fotografias para a Polícia Judiciária. Os familiares conseguiam identificar através dos brincos, do anel ou da roupa”, recorda.

Há já instituições de Medicina Legal ligadas internacionalmente para cooperarem em situações de grandes catástrofes ou acidentes e que seguem os mesmos procedimentos.