Os partidos mostram-se satisfeitos com o trabalho desenvolvido pela comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), declarando que a comissão afastou preconceitos que poderiam existir à partida sobre a atividade parlamentar.

A agência Lusa falou com os cinco deputados coordenadores dos partidos – PSD, PS, CDS-PP, PCP e BE – na comissão de inquérito, numa altura em que estão encerradas as audições e se aguarda o relatório final, a ser feito pelo deputado do PSD Pedro Saraiva.

“Penso que todos os grupos souberam encontrar um ponto de equilíbrio no sentido da responsabilidade, seriedade, e apuramento da verdade nesta comissão de inquérito. E [isso] foi feito de uma forma exemplar, com muito trabalho, estudo e muito empenho político”, vincou Carlos Abreu Amorim, coordenador do PSD na comissão.

Pedro Nuno Santos, coordenador do PS, subscreve a ideia de que “os deputados dos diversos grupos parlamentares tinham como objetivo claro apurar os factos”.

“Acho que toda a gente esteve nesse espírito”, frisou, acrescentando que a comissão “tinha tudo para correr mal, mas a verdade é que correu bem”, o que resultou numa “grande vitória do parlamento e [no] contributo para a credibilização da atividade política”.

A deputada Cecília Meireles, coordenadora do CDS-PP, sublinha que a comissão funcionou “de forma diferente do que é habitual, quer das comissões de inquérito quer das comissões em geral”.

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Os partidos, sustenta, “estavam a remar para o mesmo lado: toda a gente queria perceber o que tinha ali acontecido e isso foi um excelente sinal”.

Para Miguel Tiago, deputado do PCP, partido que propôs a comissão, o essencial a reter desta comissão é que houve um conhecimento “muito mais aprofundado” – que chegou ao público – de um grupo “monopolista” como o GES.

“Os portugueses tiveram oportunidade quase de em tempo real assistir a uma autópsia de um grupo monopolista e de perceber como o sistema não está preparado minimamente para lidar com estes grupos”, declarou à Lusa.

Para Mariana Mortágua, única deputada do Bloco de Esquerda na comissão, o facto de haver muitas “questões técnicas” na comissão atenuou as “divergências políticas e ideológicas” dos partidos.

“Foram meses intensos”, prosseguiu a deputada, que ao estar sozinha a representar o Bloco diz ter tido a “vantagem” de concentrar informação e não a separar “em várias pessoas, cérebros, cabeças”, o que permitiu “fazer algumas ligações” entre as audições e as personalidades escutadas.

A última audição da comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES deu-se na quarta-feira, e no dia 29 de abril terá de estar concluído o relatório final sobre os trabalhos.

A comissão foi proposta pelo PCP – e aprovada por unanimidade dos partidos – e teve a primeira audição a 17 de novembro do ano passado, tendo sido escutadas dezenas de personalidades, entre membros da família Espírito Santo, gestores das empresas do grupo, reguladores, supervisores, auditores e agentes políticos, entre outros.

O objetivo do trabalho dos parlamentares passou por “apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades”.