Os estímulos monetários lançados pelo BCE “parecem estar a ser eficazes na promoção do crédito à economia da zona euro”, conclui a instituição liderada por Mario Draghi perante os resultados de uma sondagem trimestral à banca que foi apresentada esta terça-feira. Os bancos estão a demonstrar “melhorias visíveis” na confiança demonstrada na avaliação de risco de crédito e verifica-se, também, uma “melhoria da procura líquida nos empréstimos às empresas“. Analistas dizem que dados demonstram a “inversão do ciclo de crédito” mas alertam que é cedo para que Draghi possa cantar vitória.
Na sondagem trimestral à banca, “os bancos da zona euro indicaram que usaram a liquidez adicional das suas vendas de ativos transacionáveis ao abrigo do programa de compra de ativos, ao longo dos últimos seis meses, em particular para conceder mais empréstimos”, conclui o BCE no relatório divulgado esta terça-feira, 14 de abril. “Uma percentagem considerável” dos bancos reconheceu que o programa de compra de ativos está a ter um impacto favorável” na sua disponibilidade para conceder crédito à economia.
Os bancos indicaram que a sua disponibilidade para conceder crédito às empresas no primeiro trimestre foi maior do que eles próprios tinham previsto, para esse mesmo período, em sondagens anteriores. Do outro lado está – algo que é crucial – uma “aumento líquido da procura por crédito pelas empresas, sobretudo para produção de stocks“, aproveitando “o nível baixo de taxas de juro”. No crédito às famílias e crédito imobiliário, houve um aumento líquido de 29% na procura por este tipo de crédito, o que marca o quinto mês consecutivo de crescimento nessa rubrica.
O BCE anunciou em janeiro que, além das compras de pacotes de crédito ao setor privado, passaria (em março) a comprar também dívida pública. Isto significa que os bancos podem vender estes ativos ao banco central e utilizar essa liquidez, que o BCE não drena do eurossistema através da recolha de depósitos no banco central, para conceder crédito. Entre os resultados desta atuação está o aumento da massa monetária na zona euro, a desvalorização da moeda (favorável para as exportadoras), a descida das taxas de juro e a oportunidade para os bancos aproveitarem a liquidez barata para fazer mais empréstimos. O programa é, assim, conhecido como um plano de expansão monetária (também conhecido como quantitative easing, ou QE).
Draghi não pode dizer missão cumprida
“Não há dúvida que o presidente Draghi irá falar nestes resultados na conferência de imprensa de amanhã (quarta-feira), para demonstrar que os estímulos já estão a ter um efeito benéfico nas condições de crédito na zona euro”, antecipa Teunis Brosens, economista do banco holandês ING, em nota de reação enviada aos clientes. “Acreditamos que Draghi irá adotar um tom otimista, mas tem de ter cuidado em não parecer demasiado satisfeito, porque se passar uma mensagem de missão cumprida poderá alimentar uma discussão sobre uma redução dos estímulos, o que poderia interromper a recuperação numa altura em que ela mal está a começar”, acrescenta o especialista.
Ainda assim, Teunis Brosens reconhece que os dados mostram que “o QE está a funcionar” e que a sondagem divulgada esta terça-feira “confirma a inversão gradual do ciclo de crédito na zona euro”.