Morreu João Pimenta ou mais propriamente J. Pimenta. João Gonçalves Pimenta é um dos muitos homens que o país tratou depreciativamente por “patos-bravos” e que proliferaram nos anos 60 e 70.

Originários de famílias muito pobres, começaram a trabalhar na construção civil pouco mais que crianças. O crescimento dos subúrbios da capital é também o da sua ascensão social: em poucos anos os serventes tornavam-se pedreiros e depois empresários da construção civil.

João Pimenta foi o que mais se destacou entre eles quer pela dimensão dos seus empreendimentos quer pelas apostas inovadoras que fez nomeadamente em apartamentos de baixo custo que vendia já mobilados. A Reboleira na zona da Amadora é uma zona emblemática da atividade da empresa de João Pimenta.

Mas aquilo que o deixou na nossa memória foram sobretudo os seus anúncios, alguns deles feitos em associação com os Parodiantes de Lisboa, como o célebre “Pois, pois Jota Pimenta” que rapidamente saltou da rádio e da televisão para a boca dos portugueses.

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No pós-25 de Abril a J. Pimenta foi ocupada pelos trabalhadores e intervencionada pelo Estado. Em 1975 João Pimenta foi para o Brasil donde regressa anos depois para tentar recuperar o seu antigo grupo económico. Compra em hasta pública algum do seu antigo património mas falha no seu objetivo de colocar a J. Pimenta entre as grandes empresas de Portugal. “Fui o homem mais roubado deste país” — declara algumas vezes.

Com os anos J. Pimenta tornou-se uma referência toponímica. Boa parte dos portugueses ignora a vida de João Pimenta. Mas viver num andar de J. Pimenta, ir ao bairro J. Pimenta, usar as Torres J. Pimenta como referência espacial acontece a milhares.

João Pimenta morreu a 24 de abril. Tinha 90 anos.