A auditoria especial do Banco de Portugal ao Montepio não terá “consequências patrimoniais” para o banco, nem ao nível do capital, assegurou esta terça-feira o seu presidente. Em conferência de imprensa, Tomás Correia revela que o resultado desta auditoria chegou a 28 de abril e que aponta para deficiências nos procedimentos e controlo interno entre o período de 2009 e 2012. Mas garante que muitas dessas falhas já foram objeto de melhoria desde 2012.
O Banco de Portugal deu um prazo de 30 dias ao Montepio para corrigir as falhas ou indicar um calendário de solução para essas deficiências, que terão já sido resolvidas em 90%, segundo Tomás Correia. Entre as deficiências detetadas estavam a forma de calcular os limites à concessão de crédito e os procedimentos de tomada de decisão por parte da caixa económica e da associação mutualista, cuja administração foi comum até 2013.
A auditoria, segundo Tomás Correia, visava créditos a particulares e empresas. Acrescenta ainda que o quadro de recomendações é muito semelhante ao apresentado para outros bancos. O Montepio, diz, “pode ter erros de procedimentos, mas não irregularidades“. O presidente da instituição acrescenta igualmente não ter conhecimento de terem sido abertos processos de contra-ordenação ou de reavaliação de idoneidade dos gestores, na sequência da auditoria do Banco de Portugal.
Tomás Correia desmistifica a ideia de que se tratou de uma auditoria forense, esclarecendo que foi uma auditoria especial como outras que foram realizadas no passado ao Montepio e a outras instituições. O Montepio foi informado da auditoria em outubro de 2013, mas os trabalhos só se iniciaram em julho de 2014, assegura o presidente do banco. Um tal lapso de tempo permite a interpretação, segundo Tomás Correia, de que “não se tratariam de coisas muito graves”.
Tomás Correia vai concorrer a novo mandato na associação mutualista
No entanto, não foi essa a ideia passada na comunicação social, “sem que ninguém procurasse desmentir o que fosse, a não ser o Montepio”, sublinhou. A relação entre o regulador e a instituição é uma relação a dois que não deve ser comentada publicamente, diz que Tomás Correia quando questionado sobre a atuação ou omissão, do Banco de Portugal. O banco, diz, só revela os resultados da auditoria porque a imagem do Montepio tem sido prejudicada por informações vindas a público. É aliás por causa desta ” grande injustiça”, que o gestor revela que vai concorrer a um novo mandato como presidente do grupo Montepio, ou seja, da associação mutualista. O atual mandato termina no final do ano.
Já o banco vai ter um novo presidente. Estão a ser tomadas medidas para ajustar o modelo do governo do Montepio às novas regras do regime geral das instituições financeira, no sentido da especialização da gestão da caixa económica que terá um órgão autónomo do da associação mutualista. Tomás Correia fica na presidência do grupo Montepio, mas a mudança de estatutos prevê um novo presidente para a caixa económica. Um dos nomes falados para o cargo é o de Fernando Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças socialista, mas a mudança dos estatutos ainda não foi aprovada pela assembleia geral da associação mutualista. O gestor afastou ainda a ligação entre estas alterações ao governo da sociedade e a auditoria do Banco de Portugal.
“Campanha de intoxicação” em ano de eleições para a associação
O presidente da instituição reconhece ainda que aquilo que qualifica de “campanha de intoxicação” em relação ao Montepio arrefeceu o interesse dos investidores institucionais no aumento de capital do banco. Esse cenário não está afastado, mas “não podemos deixar de estar preparados” caso não aconteça, daí que a associação mutualista vá avançar com uma injeção de 200 milhões de euros na caixa económica. E quem lançou a campanha de intoxicação? Tomás Correia lembra que este será um ano de eleições para associação mutualista que é sempre “um momento muito emocionante.”
E realça igualmente que “qualquer semelhança entre o Montepio e o Grupo GES ou BES não existe”. As notícias sobre a auditoria forense (o termo foi usado pelo governador do Banco de Portugal no Parlamento) ao Montepio começaram a sair após o colapso do BES. A ligação entre as áreas financeira e não financeira, da associação mutualista, e alguns vazios em relação à supervisão de algumas das operações do Montepio, alimentaram o fantasma da associação entre os dois grupos.
Tomás Correia descreve como “lamentável e deplorável” o que aconteceu ao Banco Espírito Santo e ao GES, mas sublinha que o Montepio tem uma exposição menor ao grupo do que outros bancos.
Lucro do Montepio recua 72% no primeiro trimestre
O Montepio registou lucros de 9,760 milhões de euros no primeiro trimestre de 2015, o que reflete uma queda face aos 35,5 milhões de euros apurados em igual trimestre do ano passado. A queda dos resultados deve-se sobretudo à descida dos resultados em operações financeiras, uma vez que as provisões e imparidades baixaram no primeiro trimestre deste ano, face ao mesmo período do ano passado.
Em 2013, o banco fez grandes investimentos em dívida pública que começou a ser vendida em 2014, gerando grandes mais-valias de natureza extraordinária, que não se repetiram este ano. A beneficiar os resultados esteve a redução de 51,9% das provisões e imparidades, uma evolução que não foi explicada na apresentação.
A margem financeira caiu 23,5%, o que contrasta com os resultados de outras instituições que o presidente do Montepio atribui à amortização de instrumentos de dívida de capital contingente por parte de outros bancos, o que teve um impacto positivo na sua margem financeira.
Ainda assim, Tomás Correia realça que estes resultados são melhores do que os registados em junho de 2014 e refletem já do ponto de vista do presidente do Montepio uma trajetoria de sustentabilidade que deverá continuar. O responsável sublinhou várias vezes, em conferência de imprensa, que os indicadores de atividade “comparam muito favoravelmente” com os outros bancos do sistema.
Tomás Correia salienta a capacidade de captar recursos junto dos clientes com o crescimento dos depósitos que no primeiro trimestre ascendeu a 2,7%. A concessão de crédito mantém-se estável, mas com o crédito a empresas a ganhar quota de mercado.
O gestor fez o balanço da mudança na instituição desde 2007, Tomás Correia assumiu a presidência em 2008, sublinhando que o Montepio tomou medidas do ponto de vista estratégico e “foi certeiro”. Antecipou a desalavancagem logo em 2008 e teve a “capacidade para se reinventar.”