“Para mim foi claro que [depois de ter feito o relatório sobre a natalidade em 2007] estaria ao serviço do partido para aquilo que fosse necessário. Se for necessária para isso [para a liderança], também estarei”. Foi desta forma que Assunção Cristas, ministra da Agricultura e do Mar, respondeu às perguntas sobre a possibilidade de substituir Paulo Portas na liderança do CDS.
Em entrevista a Maria João Avillez, no Observador, a governante insistiu por diversas vezes que a possibilidade de assumir o comando dos democratas-cristãos é uma “matéria” que não a “ocupa, nem preocupa”. Ainda assim, e mesmo com todas as cautelas, Assunção Cristas não afastou por completo essa hipótese – preferiu empurrá-la para o futuro e para as mãos dos militantes do partido.
“Aquilo que eu tenho dito sempre é: primeiro, não é uma questão que se coloque e, portanto, mais uma vez pragmaticamente, não me ocupa e não me preocupa. Segundo, se se colocar, é, antes de mais, uma questão para o próprio CDS e para os militantes do CDS, de quem é que acham relevante [para assumir a liderança]”.
Por enquanto, Assunção Cristas divide-se entre o gabinete de ministra e o cargo de vice-presidente do partido. Como o tempo não é de sobra, garante que não o desperdiça em criar “ruído” desnecessário, nem a lidar com “guerrinhas ou protagonismos”. “Não tenho paciência, [nem] tempo para isso”, explicou.
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António Costa que repor tudo, até a troika
“Pragmática” a tratar com colegas do partido e de Governo, pragmática a falar da oposição e do líder socialista, Assunção Cristas não se escusou a comentar as posições assumidas pelo PS, a quem não poupou duras críticas. E também não esqueceu a herança de Sócrates.
“Na minha perspetiva, o doutor António Costa cometeu um erro muito grande, que foi nunca ter feito uma revisão do que tinha corrido bem e do que tinha corrido mal na governação Sócrates. E não sendo capaz de fazer essa triagem, apresentou agora medidas que, contas feitas, não batem certo. A nossa pergunta e a nossa perplexidade é pensar: como é possível apresentar-se aos portugueses desta forma?”.
Mais: Assunção Cristas fez questão de lembrar que não é só o documento apresentado pela equipa de Mário Centeno que levanta muitas dúvidas. Também as ações de António Costa lhe fazem perguntar: “Onde é que isto vai dar?”. A ministra sabe a resposta: o destino é o mesmo de 2011, crise profunda e troika em Portugal. “O discurso do António Costa tem sido: vamos repor os salários, vamos repor as pensões, vamos repor o IRS, vamos repor não sei o quê, a pergunta é, eu diria, vamos também repor a troika?”.
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Legislativas são para ganhar. E com maioria absoluta
Acertadas as agulhas entre PSD e CDS – um processo que demorou, mas que era necessário para criar uma parceria “sólida e para durar” -, Assunção Cristas acredita que a coligação tem tudo para ganhar as próximas eleições legislativas e para ganhar com maioria absoluta. E di-lo, mais uma vez, sem esquecer a oposição socialista, que tantas vezes anunciou a morte deste Governo.
“A verdade é que [o Governo] conseguiu aquilo que, na altura, todos achavam impossível e com a oposição sempre a duvidar nas alturas mais críticas: [primeiro] era porque vinha aí o segundo resgate. Mas afinal já não era o segundo resgate, já era programa cautelar. E depois, já não foi programa cautelar. O que é que foi, então?”, questionou.
Ainda assim, o currículo de um Governo “que conseguiu tirar o país do buraco onde estava”, para Assunção Cristas, não basta. “Não se ganham as eleições com o passado. Só se ganham as eleições com o futuro”. E, por isso, a ministra pede um programa eleitoral “suficiente ambicioso” que possa “oferecer um horizonte de esperança e de melhoria de vida das pessoas”.
E, para aqueles que acusam o Governo de ter ido além da troika, a ministra da Agricultura fez questão de lembrar o quão “difícil” foi governar sob a “limitação da troika”. “As pessoas não sabem o que é que é trabalhar com a troika no país. A limitação que um Governo tem de, nós decidirmos coisas no Conselho de Ministros, e depois o pobre do engenheiro Carlos Moedas dizer ‘mas eu tenho de validar isto com a troika e a troika não deixa'”.
Assunção Cristas espera, por isso, que, depois de “quatro anos muito difíceis”, os portugueses consigam reconhecer “a experiência e a credibilidade” de uma coligação que “não vai prometer aquilo que não pode cumprir”.
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O mar como o caminho para Portugal se tornar um líder mundial
Quando Assunção Cristas tomou posse como ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, foram muitos que se questionaram se a vice-presidente do CDS teria experiência suficiente para acumular quatro pastas. Na entrevista, Cristas não fugiu à questão e admitiu que tal só foi possível com muita exigência própria, boas ajudas e muita delegação de matérias”.
No entanto, com o “verão quente” da coligação e a reformulação do Governo em 2013, Assunção Cristas passou a ser titular apenas das pastas da Agricultura e do Mar. Desafiada a comentar a perda de funções, a número 2 do CDS não escondeu que, inicialmente, lhe causou “alguma ligeira irritação”, só ultrapassada quando percebeu que era essa “a solução”.
“Olhe, tive dois sentimentos, para ser totalmente honesta. O primeiro foi pensar: bolas, eu que fiz tanto esforço e que aprendi tantas coisas, isto agora… Podiam-me ter poupado a isto. Nesse sentido, um primeiro sentimento foi de alguma ligeira irritação.
O segundo, foi de perceber que, de facto, era a solução e portanto longe de mim estar a prejudicar qualquer solução que fosse necessária encontrar e foi pensar isto vai-me tornar a vida mais fácil. Passei a dedicar-me com mais profundidade a temas que anteriormente tinham de estar mais delegados aos secretário de Estado”, explicou.
O mar acabou por se tornar a grande aposta de Assunção Cristas e é no mar e na economia do mar que a ministra deposita as grandes expectativas de ver Portugal a crescer e a tornar-se um líder mundial. “No mar nós somos reconhecidos à partida, porque temos um passado, uma história que nos é apresentada e que faz parte da história universal”, começou por sublinhar Assunção Cristas.
“As pessoas relacionam Portugal com o mar. Nós somos 18 vezes maior no mar do quem em terra e com o alargamento da plataforma continental que está [a ser discutido] nas Nações Unidas seremos 42 vezes maior em mar do que em terra. Portanto, faz sentido posicionarmo-nos mais virados para o mar”, explicou a ministra.
Esta será a grande bandeira de Assunção Cristas, mesmo não sabendo o que o futuro lhe reserva. Ainda assim, a ministra tem a forte convicção de que vai estar no Governo: a coligação vai ganhar as próximas eleições.
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