Georgios Papandreou, primeiro-ministro grego entre 2009 e 2012, lamenta que o programa da troika na Grécia tenha “colocado o ênfase na austeridade e não nas reformas” que combatessem a burocracia, o clientelismo e a corrupção que existia no país. Papandreou, que esta quarta-feira participa numa conferência no Estoril e falou, também, com jornalistas, diz que “não seria contra” um referendo relacionado com o impasse atual, que está a criar o risco de uma “catástrofe” que seria a saída da Grécia da zona euro.

Papandreou diz que, na Grécia, a população começou por olhar para o programa da troika como “uma Odisseia”. Mas que, hoje, “se perguntarmos aos gregos o que eles acham do programa da troika, eles acham que é o castigo de Sísifo”.

Isso explica-se pelas dificuldades económicas que se vivem há vários anos na Grécia, causadas pelo facto de a troika se ter centrado no equilíbrio das contas públicas e não nas reformas do país. “Um enfoque nas reformas implicaria défices maiores e um ajustamento das contas mais lento, mas era muito difícil obter aprovação para montantes mais elevados por parte dos Estados-membros”. Aí, teria sido uma boa ideia encontrar formas de emitir dívida conjunta, como as eurobonds.

“Foi conveniente alguns países dizerem que a Grécia era o problema”, defende Papandreou. Mas “nesta crise, estivemos a lutar uns contra os outros, a chamar nomes uns aos outros”, lamenta o grego, que é, também, presidente da Internacional Socialista e fundador do novo partido Movimento Socialista Pan-Helénico.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Outra coisa em que a Europa esteve errada foi o facto de os EUA e a China terem reagido à crise com o lançamento de estímulos [económicos e monetários]. A Europa só agora está a fazer isso”, diz Papandreou. Além dos estímulos que o BCE está a lançar atualmente, Papandreou recordou o discurso, em julho de 2012, de Mario Draghi a prometer “fazer tudo para preservar o euro”. “Talvez Portugal não tivesse necessitado de chamar a troika se Draghi tivesse feito isso mais cedo, talvez até mesmo a Grécia”, acredita o grego.

Nesta fase, e com “os mercados a terem, já, incorporado o risco de uma saída da Grécia da zona euro”, Papandreou diz que “a Grexit seria uma catástrofe” para o povo grego. Mas não só: “um divórcio azedo será uma marca duradoura para a Europa” que poderá criar um “precedente” para países como Portugal.

 

“Precisamos de encontrar um compromisso”, diz Papandreou, aconselhando que os responsáveis devem “enfatizar que são necessárias reformas mais profundas, para criar uma democracia que funcione, transparente” na Grécia.

Outras soluções, como as sugestões de um default da Grécia (incumprimento na dívida) sem saída do euro, Papandreou diz que “tem havido tanta experimentação com a Grécia, sendo que na altura do resgate ninguém sabia muito bem o que fazer. Nem o FMI, que tinha a experiência, nunca tinha lidado com um resgate a um país que integrava uma união monetária”.

“Eu teria cuidado com mais experimentações, a menos que pudesse ser possível saber exatamente o que aconteceria, para que os cidadãos gregos não sofram”, diz Papandreou.