O ex-presidente da Comissão Europeia defendeu que é “mais provável a saída da Grécia do euro atualmente” do que em 2012, dado que “por razões políticas próprias, Atenas ainda não conseguiu recuperar a confiança dos mercados”.

“É uma situação trágica (…) uma má política pode gerar catástrofes”, afirmou José Manuel Durão Barroso numa crítica à atuação do governo de Alexis Tsipras, que “não soube aproveitar a legitimidade” para negociar com a zona euro, preferindo falar em restruturação da dívida.

Antes, “a Grécia mentiu aos parceiros e à Comissão Europeia, o povo grego deu instruções ao banco central e ao tribunal de contas para manipular os dados que apresentava” às instituições europeias, disse. “A Grécia não cumpriu as regras e o povo grego está a pagar um enorme preço por isso”, sublinhou.

“É um teste curioso ver se um partido, o Syriza, contra o sistema é capaz, ou não, de governar no sistema”, disse, acrescentando: “Eu gostaria que fosse (…) pois seria mais uma prova da plasticidade do projeto europeu”.

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O ex-primeiro-ministro português (2002-2004) elogiou a construção europeia e a capacidade de ultrapassar situações de crise. “Esta crise expôs vulnerabilidades, mas também demonstrou que a UE tem grande resiliência, a capacidade de resistir e ultrapassar situações graves (…) uma recuperação mais segura e sustentável”, sublinhou.

“Há atualmente na Europa forças suficientes para garantir a continuação e aprofundamento do projeto europeu (…) apesar das ameaças como o Grexit (saída da Grécia), o Briexit (saída do Reino Unido), ou a Rússia, ou o terrorismo”, acrescentou.

Sobre a Ucrânia, Durão Barroso considerou que a UE “tomou a posição correta”, ao decidir aplicar sanções à Rússia, uma vez que não ia optar por uma solução militar, tal como os Estados Unidos. A UE “manteve uma posição de princípio, mas era mais fácil para alguns países europeus, pelos interesses que os ligam à Rússia, deixarem a Ucrânia entregue à sua sorte”, disse.

Apesar dos tratados assinados entre Moscovo e Kiev, nos quais é reconhecida a integridade territorial da Ucrânia, a Rússia anexou a Crimeia, que justificou, “de forma inadmissível”, com argumentos étnicos e linguísticos.

“Na Ucrânia está a maior presença de tropas russas na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”, sublinhou o ex-presidente da Comissão Europeia (2004-2014).

Em relação à situação dos migrantes no Mediterrâneo, Durão Barroso defendeu que a UE deve receber “de forma equilibrada” quem chega às suas fronteiras, criando políticas que permitam uma integração plena.

“A Europa tem falta de gente (…), mas deve acolher para formar” e integrar os refugiados, disse, numa conferência subordinada ao tema “O papel da União Europeia na Paisagem Global”, que decorreu no âmbito das Conferências do Estoril, que terminam na sexta-feira.

Durão Barroso afirmou serem necessárias “medidas para lutar contra as redes de traficantes”, além de medidas “de segurança e policiais” nas fronteiras externas da UE, bem como uma partilha de recursos e “uma capacidade coletiva dos Estados-membros para agir” e responder a situação no mar Mediterrâneo.