Em 2014, as operações angolanas do BCP, BPI e Caixa Geral de Depósitos geraram lucros da ordem dos 186 milhões de euros, suavizando a conta dos prejuízos da banca portuguesa.  Mas se, até agora, Angola foi uma bóia de salvação para alguns bancos nacionais, que se habituaram a perder dinheiro no mercado doméstico, o país surge pela primeira vez como um ameaça à estabilidade financeira da banca portuguesa. E tudo por causa da desvalorização do petróleo.

No relatório divulgado esta terça-feira, o Banco de Portugal coloca a exposição aos países produtores de petróleo, com uma menção especial a Angola, na lista dos riscos para a banca, ao lado do setor imobiliário, da dívida soberana, da baixa rendibilidade, da subida súbita dos prémios de risco e da perda de confiança dos consumidores nos mercados financeiros.

Se a descida do preço do petróleo favorece a economia portuguesa, representa, por outro lado, um factor de risco para as economias dependentes das exportações de crude, e logo, para os agentes económicos expostos de forma significativa a essas economias. O Banco de Portugal reconhece o “papel muito positivo durante a fase mais aguda da crise económica e financeira” desempenhado pela diversificação internacional das empresas portuguesas para os países produtores, e refere em particular as economias com as quais Portugal mantém “estreitas relações económicas”, como a Venezuela e Angola.

No caso do mercado angolano, a exposição da banca é dupla. Direta, por intermédio da atividade que os grupos bancários nacionais desenvolvem no país, com destaque para o BCP e sobretudo para o BPI. E indireta, por via da exposição do setor financeiro residente às empresas portuguesas com relações comerciais ou de investimento direto com Angola. No final do ano passado, as empresas com relações económicas ou investimentos em Angola representavam cerca de 17% do crédito total a sociedades não financeiras.

Para além do efeito da queda do petróleo, que já obrigou o Estado angolano a apertar o cinto e a reduzir os investimentos públicos, há também alterações ao nível da supervisão europeia que penalizam a exposição da banca ao mercado angolano e à dívida soberana do país. Esta penalização é especialmente relevante no BPI que detém uma participação maioritária num dos principais bancos de retalho angolano. O BFA (Banco do Fomento Angola) gerou lucros de 117 milhões de euros para o BPI no ano passado. A solução para acomodar as novas exigências europeias ainda está a ser discutida com as autoridades europeias.

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