O sistema bancário português está mais magro. Entre 2010 e 2014, a banca reduziu em 15% a rede de balcões e em 13% o número de trabalhadores. Mas a diminuição dos custos operacionais não chega e deve continuar ou mesmo ser reforçada para assegurar que o setor regresse aos lucros. A consolidação é um dos caminhos para alcançar essa redução de custos operacionais.

Segundo dados da Associação Portugesa de Bancos (APB), que incluem sucursais de bancos estrangeiros, o setor empregava 56844 colaboradores. Uma diminuição de 13% equivale a menos 7390 efetivos.

Apesar da redução de efetivos ser uma realidade sentida em todas as instituições, houve bancos internacionais que anunciaram processos de redimensionamento que envolveram a saída negociada de muitos colaboradores, como o Barclays ou o BBVA. Instituições portuguesas tiveram de fazer restruturações como contrapartida de apoios públicos, como o Banif ou o BCP, e diminuíram o número de trabalhadores, por via de rescisões negociadas.

Ainda segundo a APB para 2010, o número de balcões chegava a 6240. Um corte de 15% representa o fecho de 936 agências.

A necessidade de apertar ainda mais os custos é um dos alertas do relatório do estabilidade financeira divulgado esta terça feira pelo Banco de Portugal. O documento assinala a recuperação ao nível dos resultados da banca em 2014, excluindo o Banco Espírito Santo, mas realça que o setor continua pressionado pelos baixos níveis de rendibilidade. O nível historicamente baixo das taxas de juro, que degrada a margem financeira, é um dos principais problemas a ultrapassar.

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O corte dos custos focado no pessoal é também uma resposta à crescente penetração dos canais online na prestação dos serviços tradicionais da banca.

A baixa rendibilidade e os crescentes desafios à intermediação financeira, são um dos principais riscos apontados pelo supervisor, mas há mais.

Angola e imobiliário são riscos para a banca

A exposição ao setor imobiliário, à dívida soberana e aos países produtores de petróleo, com Angola em grande destaque, são outros três sinais de alerta. A subida rápida dos prémios de risco, um cenário que regressou à zona euro, e a perda de confiança dos clientes nos mercados financeiros, são outros factores referidos.

No caso de Angola, cerca de um sexto do crédito a empresas concedido no final de 2014 estava concentrado em grupos empresariais com relações ao mercado angolano. Mas o maior perigo resultará da exposição direta de alguns dos bancos ao mercado angolano através de operações locais que têm apresentado níveis de rendibilidade particularmente relevantes. O BPI é o banco com maior exposição a Angola, o que resulta também de alterações regulatórias da União Europeia que obrigaram a reconhecer a 100% o risco relacionado com a operação angolana, com destaque para a dívida pública do país.

Nos imóveis, as imparidades e provisões já reconhecidas e a recuperação “incipiente” do mercado imobiliário, não chegam para afastar este perigo. Para além dos imóveis em carteira, os bancos estão expostos através da participação em fundos de investimento imobiliário ou fundos de reestruturação de empresas do setor, mas também por via das garantias concedidas no crédito, com destaque para o setor da habitação.

O risco soberano volta a ganhar relevância por causa dos desenvolvimentos na Grécia que têm pressionado os juros das dívidas públicas. A exposição da banca ao Estado é da ordem dos 7%.

Riscos excluem venda do Novo Banco

No menu de riscos do Banco de Portugal não consta a venda do Novo Banco, uma operação que pode trazer prejuízos adicionais ao sistema bancário português que terá de assumir a eventual perda que resulte da diferença entre o capital injetado e o preço da alienação. O supervisor só ponderou os riscos estruturais.

Apesar dos riscos, há também sinais de reforço da estabilidade financeira da banca, com destaque para o crescimento do financiamento assegurado pelos recursos de clientes que passou de 43% do total em 2010 para 59% no final do ano passado. A dependência do BCE diminuiu.

Para esta evolução contribuiu de forma decisiva, o reforço dos depósitos que estão ao nível mais alto de sempre, depois de subirem cinco mil milhões de euros em em 2014.