Salamandras de pintas amarelas, rãs ibéricas, pirilampos e escaravelhos de espécies contemporâneas dos dinossauros são alguns dos animais que coabitam com atletas no Parque das Ribeiras do Rio Uíma, no concelho da Feira, após uma reabilitação ecológica “pioneira”.

A descrição é do especialista em recuperação de rios Pedro Teiga, que acompanhou o processo com que a autarquia transformou as ribeiras da cidade de Fiães num parque que agora tem quase três quilómetros de passadiços em madeira por entre uma vegetação intensa, habitada por diferentes espécies de fauna e flora.

“Desenvolveu-se aqui um corredor ecológico onde as várias espécies vão poder interligar-se e comunicar ao longo de quilómetros”, declarou esse engenheiro do ambiente à Lusa. “Foram feitas plantações de árvores, podas seletivas e estabilizações de margens nos locais de erosão, utilizando técnicas de engenharia natural para efetivamente promover a biodiversidade”, acrescenta.

É nessa perspetiva que Pedro Teiga defende que “este projeto consegue conciliar de uma forma única e pioneira por um lado a participação pública, por outro as questões ecológicas e por último as questões hidrológicas – a continuidade da água e o respeito pelo leitos de cheia e pelo funcionamento do rio, como uma estrutura viva que merece ser protegida e ser um exemplo de intervenção em reabilitação fluvial”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal da Feira desde 2013, afirma que a transformação do local começou em 2006, quando deu entrada na autarquia como vereador.

“Isto antigamente era o nosso sítio de banhos, onde aprendíamos a nadar, e a nossa piscina no tempo do verão”, recorda o autarca, natural de Fiães. “Depois, com o abandono da agricultura, o próprio rio passou a ficar muito poluído com descargas industriais e nos anos 80, completamente abandonado, a vegetação tomou conta disto”, continua.

Definindo-se como “um apaixonado por rios”, Emídio Sousa decidiu recuperar esse curso de água e “devolvê-lo à população”, iniciando assim com o então presidente da Junta de Fiães, Bernardino Ribeiro, o “difícil processo” de aquisição e expropriação dos terrenos nas margens do Uíma.

“Eu entendia que estava aqui um grande valor económico para as pessoas, em termos de caminhadas e saúde, porque o ambiente também tem que ser considerado um valor económico”, revela o presidente da Câmara. “Hoje muita gente vem cá ver esta zona, tirar fotografias, deliciar-se, ouvir a água a correr – foi uma aposta ganha”, realça.

O atual presidente da Junta de Fiães, António Valdemar, concorda: “Este é um espaço muito aprazível para a população não só de Fiães, mas de todo o concelho e fora dele. É frequentado desde as sete da manhã até altas horas da noite, por pequeninos até pessoas de certa idade”.

Consoante a hora do dia, a estação do ano, a discrição da presença humana e também “alguma sorte”, como nota Emídio Sousa, descobrir-se-ão ainda junto ao Uíma lontras, cobras-de-água, sapos corredores, morcegos-anões, garças-reais, águias de asa redonda, libelinhas e rouxinóis-bravos, entre outras espécies animais e também vegetais, como lírios amarelos dos pântanos, amieiros, sabugueiros e tabúas.

Entre as árvores, são mil as que foram plantadas por voluntários ao abrigo do projeto Futuro – 100.000 Árvores na Área Metropolitana do Porto.

A terceira fase da reabilitação do parque passa por prolongá-lo até às Termas de S. Jorge, onde já existe um troço construído, e irá envolver novos territórios em Fiães, Lobão, Caldas de S. Jorge e também numa parcela de Sanguedo, a jusante do rio.

“Ainda nos faltam aqui uns quatro ou cinco quilómetros, mas já tenho os três presidentes das juntas onde o rio passa envolvidos nas negociações de terrenos”, adianta Emídio Sousa.